sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

lendas do surf - robert august

Vi ontem o mais recente filme dele, The Endless Journey Continues..., que tinha comprado no Ivo há umas quatro semanas, mas ainda sem ter tido tempo para enfiá-lo no DVD, sempre ocupado com o Noddy ou com o Bob O Construtor.
Acho que ainda estou a mastigá-lo. A ver o raio do velhote (64 biscas!) cruzar as ondas da Costa Rica com impecável fluidez, como se às escuras as massajasse. Sem ofensa, ele é daqueles que ficava bem a surfar de gravata.
Trato fino, boa disposição e uma vontade inesgotável de entrar na água tiram-lhe bem as medidas.
Já agora, digo cá para mim, vamos lá a saber um bocadinho mais sobre este senhor.
Filho de peixe sabe nadar. É o caso de Robert August, filho do antigo campeão de natação e atleta olímpico Oral W. August, uma espécie de Michael Phelps daquela altura. Blackie (o pai de Robert), como era conhecido, foi contemporâneo do pioneiro Duke Kahanamoku, que o influenciou na adesão ao mundo do surf.
“Lifeguard” em Redondo Beach, foi (pois 'tá claro) na praia que Blackie conheceu a mulher com quem viria a casar. Seria na California que a família se estabeleceria, adoptando um estilo de vida em que o surf seria sempre presença assídua.
Robert, seu segundo filho, nasceu em 1945, ano que pôs termo à Segunda Guerra Mundial. Criado em Huntington Beach, começou a surfar com apenas seis anos, numa época em que a modalidade emergia em força.
Em 1966, alcançaria a fama, com a participação no célebre The Endless Summer, filme de Bruce Brown que influenciaria determinantemente a expansão do surf nas décadas seguintes. Na companhia de Mike Hynson, August experimentou spots que nunca tinham visto uma prancha de surf.
Filnalizaria o curso de medicina dentária, mas admitiria mais tarde não ter dentes para a profissão, que considerava tão monótona como reparar dings.
Depois de uma experiência falhada no negócio da restauração, fundou, em 1974, a Robert August Surf Shop, em Huntington Beach, numa altura em que as shortboards começavam a tomar conta do mercado. Nessa altura, era já um shaper de renome, actividade que abraçara em 1966.
Vive actualmente em Seal Beach, com a esposa Pat, com quem casou em 1965 e teve dois filhos, Byron e Sam.
Este último vai tomando conta do negócio, deixando Robert livre para incursões frequentes à casa de férias na Costa Rica, onde vai encontrando, sempre que quer, o verdadeiro Endless Summer.


Nota: a primeira aparição cinematográfica de Robert August deu-se em Locked In! (1964). Filmou, também, em 1994, The Endless Summer II; em 2000, The Endless Summer Revisited; e, em 2003, Step into Liquid, de Dana Brown (filho de Bruce Brown).

Fontes:
robertaugust.com
imdb.com
surfline.com
surfingmuseum.org

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

cantinho do baú - god save nick uricchio!

O suado provento duma semana de trabalho, nas férias escolares de 1985, foi quanto me custou aquele “barco” vetusto, comprado a um tal de Serafim, de cabelo à tijela, que eu conhecia lá do liceu, ao Bairro das Colónias.
Um verdadeiro chaço! Que hoje, porém, não hesitaria em pendurar na parede da sala como um Van Gogh ou um Picasso, por ser, afinal, um Nick Uricchio, com a chancela da Lipsticks, precursora histórica da Semente, e por me ter proporcionado a primeira experiência de surf.
No dia seguinte, guerreava já com o bicho nos espumaços de S. João, na tentativa afogueada de lhe pôr os pés em cima como faziam nas revistas os “pros” de nomeada.
A guedelha loura, os ténis Romika e a passagem crónica pelo Rock Rendez-Vous nas matinés de quarta-feira não chegavam, afinal, para fazer de mim um verdadeiro surfista.
Veio depois o inverno, que transformou as romarias ao campo de batalha em autênticas provas de fogo. Ou melhor: de gelo. Fatinho de neoprene nem o cheiro, que era coisa cara para surfista de fim-de-semana.
E sem couraça lá ía, em Dezembro ou Janeiro, desafiar a rebentação. De calçãozinho e com a coragem própria dos dezassete anos, lá ía eu, para desistir daí a uma hora, tipo feijão engelhado e com uma vontade estúpida de bater no Bubas e no Frei Tuck.
No surf também há classes e, naquela altura, o maçarro que havia em mim apenas conseguia despertar na tribo a atenção dos outros maçarros. Automóvel, tá quieto... Éramos, por isso, uma espécie de esquadrão L-123, o cobiçado passe social que nos permitia aterrar na Costa com os nossos queridos “bacalhaus”. Aos sábados e aos domingos. Religiosamente.
Recordo algumas das figuras que me acompanharam nos tempos de então, como o “Murdock”, alcunha que tinha por ser um autêntico doidivanas, com a sua Star Model verde-alface, muito gabada naquela altura; o “Carlos da Carrinha”, dono duma Ford a cair de podre, mas com muito glamour; o Pedro “Chinês” (que o era mesmo), cujo pai tinha um restaurante na avenida por detrás da Praia Nova, com um anexo no terraço onde guardávamos as pranchas; O Zé Carlos Carrilho, colega de escola, com quem surfei desde o início... (a todos eles perdi o rasto...).
A quem, também, devo esta herança é ao Vítor “Tubos”, meu vizinho e amigo de infância, um bocado maluco, que mandou estampar num fato da mítica Waterline, encomendado por medida, o nome da ingrata namoradinha que terminou com ele uns dias depois... Soube, há uns tempos, que andava em tour pelo país a saltar das pontes. Isso mesmo: mergulho artístico!
Voltando à história: uma Semente um bocado janada, no ano seguinte, e, no outro, uma 6’1’’ australiana, de rails grossos cor-de-rosa e quase sem rocker (comprada ao Carlos da Carrinha, que, por sua vez, a adquirira a um bife em Peniche), fizeram de mim, em apenas um par de anos, um verdadeiro Tom Curren da Caparica. Ou, pelo menos, assim gostava de me imaginar sempre que vencia uma etapa nova, como o primeiro take-off no outside, a primeira onda em backside ou o primeiro drop cavado sem acabar na apneia centrífuga do costume. Era já, afinal, um breve cheirinho do conhecido Only a surfer knows the feeling.
Mas a história havia de conhecer em 1988 uma dura inversão, com a prancha substituída pela G-3 e as ondas verdes da Caparica pelo verde militar (no tempo em que a tropa era morada obrigatória por 16 meses). Sem “dinheiro para cigarros e bilhar”, a consequência foi o adeus, na Feira da Ladra, à minha amiga australiana e à vestimenta em rubatex da Aleeda, que tanto suara para conquistar.
Divórcio longo se seguiu. Nada de corda no tornozelo. Nada de Mr. Zoggs.
Muitos anos depois, um desejo fogoso de recomeçar. Visões frequentes no Baleal, no Molhe e nos Supertubos, onde, então, fazia praia. Quem é que podia aguentar mais tempo deitado na toalha a matar mosquitos e a comer pêssegos?
Assim foi que, no Verão bendito de 2004, ressuscitei na loja/fábrica da Semente. Assinadinha pelo velho Nick, esse Moisés transviado, lá pesquei, novinha em folha e concebida para enferrujados, uma 7’2”, que era para poupar músculo e evitar acidentes, não fosse um aéreo em shortboard espetar comigo nos Farilhões.
Cocaína não era, mas tive no olfacto um verdadeiro nirvana quando lhe desfiz pela primeira vez em cima um bloco de wax. Jurei que agora era para sempre.
Reencontrado o amor antigo, passei então a correr para as vagas como um cristão para a missa!
Por esta nova encarnação, pela amizade de vocês todos, pelo prazer de poder contar-vos esta história, por estar aqui: God save Nick Uricchio!...


FOTOS (ordem descendente):
1) Costa de Caparica, 1987: junto à carrinha do Carlos, a caminho duma sessão na Praia Nova, com a tábua australiana (de cuja marca não me lembro) e o fato Aleeda.
2) Costa de Caparica, 1986: com o Murdock, na paragem de camionetes (junto à Torre das Argolas).
3) Costa de Caparica, 1987: entre o Carlos e o Chinês, curtindo o pôr-do-sol, depois duma surfada na Nova Praia (numa altura em que era permitido levar o veículo para o pontão).
4) Cantinho da Baía, Baleal, 2005: já depois de reencarnado, curtindo a Semente do Nick Uricchio (entretanto "arquivada", como sabem os meus amigos, em prol da Koala 8’0’’ e, mais recentemente, do Lufi 9’1’’ – mudam-se os tempos, mudam-se as vontades...).

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

amigos

Duas semanas passaram sem surfar. Quando penso nisso, parece que já esqueci como se faz o take-off e tudo o mais. Começo a rever os passos em câmara lenta como se se tratasse de um filme.
Duas semanas que mais parecem dois meses, mas nada comparado com o tempo que os nossos amigos Pikas e Lapas tiveram de parar por motivos de saúde. Felizmente, já recuperados, voltaram. Pensando nisto tudo, a minha tosse não é assim tão má. Brevemente, estarei de volta ao frio e à chuva, mas não importa porque os amigos e as ondas estão lá e, como alguém disse, "há mais marés que marinheiros". Fiquem bem!

Foto: Surftrip à Costa Vicentina, Outubro de 2007.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

distância

"E outra vez conquistemos a distância - do mar ou outra, mas que seja nossa!"
F.Pessoa

A essência do mar sempre nos correu nas veias. Desde o início, desde o primeiro mergulhar alaranjado do sol a que assistimos, desde a primeira vez que o vimos, desde aquele primeiro chamamento ondulado que desabou a nossos pés, imperceptível para tantos outros...
Quando o sentimos, voámos para outra realidade em que os sentimentos se tornaram água e a felicidade tomou a forma de uma onda que rebentou com euforia numa praia bem mais segura. Foi naquele dia em que o fitávamos, sentindo-nos quase afogados naquela brisa inquietante, que decidimos elevar ao máximo o nosso desafio, de forma a diminuir todas as nossas fraquezas que ainda hoje tanto nos prendem a um remoinho de pura nostalgia e onde, sem dar por isso, nos afogamos. Afogássemo-nos antes no mar, onde à imensidão azul corresponde uma imensidão de calma, de paz de espírito, mas também de conquista. Isto porque o mar é o limite de todos os nossos sonhos azuis, é aquela mística fronteira que, desde o tal início, nos afasta de todos os outros, mas que nos aproxima dos nosso desejos e que nos torna maiores aos nossos próprios olhos. Bendita seja toda essa distância!
Sempre foi o mar que olhámos, talvez até por não ter mais para onde olhar. Assim, porque não seguirmos o sopro salgado que desde sempre nos agitou, até naqueles intermináveis dias de calmaria? Por muito longe que esteja agora toda aquela força de outrora, continua nas nossas almas a inspiração salgada que nos tempera as ideias e as emoções, desde o longínquo tempo em que tudo começou...

RM 2005

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

mil surfadas!

Está de parabéns o Cantinho da Onda! A poucos dias de completar dois meses - desde a publicação, em finais de Novembro, do seu primeiro conteúdo, passou a barreira das mil visitas, tendo registado o meio milhar há apenas duas semanas, o que demonstra bem o interesse crescente em redor do blogue.
Os números valem o que valem, mas julgo traduzirem com fidelidade a importância deste Cantinho virtual, suprindo a falta que nos vai fazendo durante a semana o Cantinho físico.
Uma outra onda, um outro spot, o blogue veio para ficar e já é tema de conversa nos encontros de sábado e de domingo - em frente à praia, enquanto se espera pela maré, ou em redor da mesa e dumas lourinhas “super bockas”.
Com ele se brinca, com ele se discute, com ele se ri e cimentam os laços e o sentimento do surf, que é, afinal, o nosso marco geodésico.
Ficção, crónica, poesia, simples recados: um pouco de tudo, perante mil olhos (literalmente perante mil olhos), por cá tem passado.
O blogue, é claro, agradece a todos a sua existência e o seu crescimento. E pede mais!
Vai uma surfada?


P.S. – Teremos em breve (feliz ideia do Rui Lopes) um espaço outlet, onde cada um poderá trocar por aéreos o surf que lhe sobra lá em casa (pranchas, fatos, etc. – toca a espiolhar o mofo do sotão e da garagem!).

sábado, 17 de janeiro de 2009

andrew & suzy

Ele pensara esse fim-de-semana na floresta tropical, para um banho de cascata.
- Estou fartinha de me açoitar! – cobrava-lhe Suzy, depois de passar a primeira noite num banho de mosquitos.
Regressariam antecipados ao velho Royal, em Honolulu, o hotel cor-de-rosa dos anos vinte, que, mais do que nunca, vestia glamour aos olhos de Suzy.
Subiu ao quarto para um banho de sais, já a pensar no Luau festivo, sob as palmeiras e o céu estrelado.
Andrew, de pronto, esgueirou-se para o bar, largando o corpo furtivamente no fundo dum maple. Pediu cigarros e um ponche de frutas, enquanto geria, ao telemóvel, a plantação de cana-de-açúcar e o negócio de abacaxi.
Suzy desceu, uma hora depois, trajada de branco. Top, bermudas e boina basca, com pom-pom; os pés enfiados nas sandálias tradicionais que se vendiam aos montes na avenida Kalakaua.
- Vamos? – propôs, sorrindo, enquanto estreitava numa orelha um brinco teimoso.
Rumaram, voláteis, ao bar da praia, onde já cheirava a kalua pig.
Cearam ávidos.
Esperaram o show dos tocadores de ukelele e dançaram a hula - Andrew fogoso, de camisa aberta e colar com flores, gingando o corpo com fino espírito Aloha no meio das jovens polinésias de pele oleada e saias de palha; Suzy activa como um vulcão, impondo com ritmo, entre os nativos tatuados, as sandálias e o pom-pom.
- Uma noite perfeita! – disse-lhe ela, pela manhã – e sem mosquitos! Porque não ficamos mais tempo?
O sol raiava.
Andrew sorriu.
Desceram juntos a onda seguinte em Waikiki.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

pertencer

Bem, começo por dizer que é estranho escrever aqui, porque sublinha aquela minha suspeita de que vivo com um pé em cada planeta. De que as tardes solarengas no bar da praia depois da surfada e esta manhã cinzenta e chuvosa, num prédio em lisboa e enterrada em livros e estudo, não podem senão pertencer a mundos distintos...
Mas, no entanto, por cima desta estranheza consigo colar (não com cuspo, com wax!) um sorriso daqueles genuínos, que vêm lá de dentro. Sorrio com a ideia de fazer parte disto, de sentir aqui no gelado apartamento do 4º direito a frescura das ondas deste cantinho, sorrio pelos bons momentos partilhados com todos vocês, bons momentos dificilmente atingíveis com amigos desta geração-morangos-azedos que (cada vez me convenço mais disso) apenas têm em comum comigo a proximidade dos dígitos do B.I.. Orgulho-me de ser a pek no meio disto tudo, é bom pertencer :)
um grande beijinho para todos no cantinho da onda!*

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

surfista















De pé na frágil tábua
onda a onda ele escrevia
poesia sobre a água.
Era uma escrita tão una
de tão perfeita harmonia
que o que ficava na espuma
não se podia apagar:
era a própria grafia
do poema do mar.


Manuel Alegre


P.S. - Prometo que não trago mais poesias, mas desta gosto muito.
Alberto

raspanete

Pessoal! já levei um raspanete por não escrever no blog há uma semana. Esse pessoal que já comentou que o blog tá a ficar muito soft, com muita poesia, que comece a escrever e faça as reclamações por escrito.
Mudando de assunto, estou a ouvir na Antena 3 a Prova Oral, com o Alvim. Não sei quem são os convidados (um deles é o João Boavida, ouvi agora) mas 'tou a gostar. O tema é o surf e está muito interessante a conversa (há pessoal que não entende nada de nada). O assunto é o livro História do Surf em Portugal (não ouvi o início, só agora percebi que a conversa é sobre a obra).
Sobre o artigo do cantinho do baú, vou deixar aqui uma foto para perceberem melhor o Mr. David Griffiths.
P.S. - Não liguem às bocas, escrevam o que vos apetecer.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

cantinho do baú - david griffiths noticiado

Na pequena peça que, há uns bons quatro anos, lhe dedicou o Jornal de Leiria, no suplemento “Viver”, houve David Grifiths. Tal como é: o “surf em pessoa” (ver post do Sérgio, em que dele falou).
Outro David (o Caetano, aqui do blogue) guardou consigo essa edição e em boa hora ma emprestou, a pensar, é claro, no cantinho da onda.
Ao nosso bife, apetece dizer: não tenhas dúvidas, amigo, quando formos grandes, queremos ser como tu!

O Surf é a minha droga
A primeira vez que David Griffiths tentou surfar foi numa praia do País de Gales, numa prancha emprestada, em 1966. “Era uma chatice”, recorda, “como não tinha dinheiro para comprar uma, tinha de estar sempre a pedir as pranchas emprestadas e, quando começava finalmente a dominar a tácnica, o dono vinha pedir a prancha de volta (o que acontecia ao fim de uns vinte minutos)”.
Este galês de 58 anos conhece Portugal há mais de 20 anos e sempre se sentiu apaixonado pelo país. Há cerca de ano e meio, veio morar para Peniche. “Escolhemos Peniche para nos fixarmos porque tem bons spots para o surf, gosto da cidade e gosto das Caldas. Inicialmente, eu e a minha mulher só íamos ficar por três meses... Nunca mais fomos embora”.
A paixão pelo surf é tal que, conta, houve ocasiões em que, em Gales, estava a surfar e a areia na praia estava coberta de gelo. “Não entendo as pessoas que se metem na droga. Será que não percebem que se conseguissem dinheiro para comprar o equipamento, podiam descobrir que o surf é uma droga muito melhor que a cocaína! Tenho pena delas”.
A presença de um britânico, vermelho do sol, vestido com um fato de neoprene e uma “tábua” debaixo do braço não deixa os outros praticantes indiferentes. “Há alguns miúdos que olham para mim como se eu fosse o Pai Natal a entrar no mar. Perguntam-me como foi que comecei a surfar e dizem que esperam ser como eu quando tiverem a minha idade. Em Gales, há um tipo com 69 anos que ainda surfa! E, na Austrália ou na Nova Zelândia, há outro com 76 que também se mete às ondas. Por isso, penso que não sou um fenómeno assim tão grande”.
in "Viver", Jornal de Leiria, 22 de Abril de 2004,

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

brandy

Nua, sobre os lençóis franzidos, ele a deixava, como um fósforo apagado.
No dia seguinte, acordaria enxuta. Regaria os vasos coloridos da varanda, deixando cair distraidamente sobre os crisântemos a cabeleira; o gato metendo-se-lhe entre os artelhos, talvez comprando a ausência dele, que de novo partia, na estrepitosa Volkswagen, em direcção a França.
Na sua remada imprevisível, talvez voltasse, no mês de Novembro, para uns dias clássicos na baía, com vento Sul.
- Tens uma espécie de coração que, se fosse uma cara, teria a barba por fazer, como a dos cowboys - cobrava-lhe Mila, nervosamente, firmando-lhe os dedos sob a maxila.
Steve sorria-lhe, com os olhos azuis semicerrados, enquanto pousava sobre a mesa da varanda o cálice de brandy.
Um breve silêncio o dominava.
Depois cantava-lhe ao ouvido o Jacques Brell, acompanhado do marulho, com os ombros espessos banhados de luar.
Num flash, o quarto; o púbis táctil e a gramática cardíaca do tórax.
Nua, sobre os lençóis franzidos, descolando as pálpebras: Mila sobra para o novo dia. Rega os crisântemos da varanda, que se recurvam, sob o afago do vento Sul. Na mesa, o cálice, olhando-a muito.
Arranca ao sono a bicicleta e corre à praia. Steve, culposo, desce uma onda. Mila senta-se na duna em frente.
Espera por ele, para mais um brandy.


(Descobre aqui a canção de Mila e Steve)

puro veneno

Amigo

Mal nos conhecemos
Inaugurámos a palavra «amigo».
«Amigo» é um sorriso
De boca em boca,
Um olhar bem limpo,
Uma casa, mesmo modesta, que se oferece,
Um coração pronto a pulsar
Na nossa mão!
«Amigo» (recordam-se, vocês aí,
Escrupulosos detritos?)
«Amigo» é o contrário de inimigo!
«Amigo» é o erro corrigido,
Não o erro perseguido, explorado,
É a verdade partilhada, praticada.
«Amigo» é a solidão derrotada!
«Amigo» é uma grande tarefa,
Um trabalho sem fim,
Um espaço útil, um tempo fértil,
«Amigo» vai ser, é já uma grande festa!
Alexandre O'Neill , in 'No Reino da Dinamarca'
Tenho seguido este blog quase desde o seu início, e já fui, por tal, chamado de "mirone". Por isso, agora, decidi escrever uma mensagem neste que começou por ser o cantinho da onda e rapidamente se transformou no cantinho da poesia.
Como de surfista tenho pouco e de poeta não tenho nada, vou voltar á condição de "mirone".
P.S. Publiquem aqui aquilo que são, aquilo que vos vai na alma, não aquilo que acham que fica bem. Transcrevi este poema porque me identifico com ele; e escrevi estas palavras porque sou assim: "puro veneno".
Um grande abraço e boas ondas, ou poesias.
Alberto

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

momentos de poesia - a menina

Batem leve, levemente,
como quem chama por mim.
Serão ondas?
Será gente?
Podem ser ondas,
podem ser "babes".
Fui ver...
Era a Carolina ó i ó ai, acompanhada de dois grandes surfistas....

David, "O Poeta Que Não é Zarolho".

(De vez em quando tem que se elevar a fasquia cultural, não acham? Eh, eh, eh, eh, eh...
Está profundo e muito verdadeiro. Está, está!)

PS. Esta miúda, com professores destes, ainda vai dar muitas alegrias aos pais dela e a todo o país. Eh eh eh...

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

o fim e o início

Fim de tarde no cantinho da baía, fim das mini férias, fim do frio, fim dos dias de chuva, fim dos dias em que se veste o fato molhado, fim da humidade na rulote e, pior que isso tudo, fim dos dias de surf.
Começou a primeira semana de trabalho e, ao fim de três dias, já tenho saudades da chuva, da humidade, do frio e, mais que isso tudo, das ondas e dos fins de tarde no cantinho, esse lugar mágico. Um bom ano para todos e que as ondas não entrem em recessão técnica!!!

P.S. - Pessoal, o Luis tem razão! vamos pensar num prémio para a primeira seguidora do blog. Luís: faz uma lista para votarmos...

quarto-crescente

Quero pintar, daqui a um ano, uma camionete das grandes e a lua-cheia.
Há pouco mais de um mês, iniciei no Blogger esta viagem sem destino e fui dando boleias.
Passada a fronteira do novo ano, já somos uns poucos a prolongar a onda que, até aqui, deixávamos irremediavelmente amolecer ao domingo à tarde, quando apertávamos as mãos para dizermos “até para a semana”.
Tal e qual o feijão com atum que partilho convosco a olharmos a praia depois das ondas: assim me sabem estas bolachas, que vou mordendo enquanto vos “pinto” na camionete sob as estrelas e o quarto-crescente e vou escrevendo estas palavras.
Apetece dizer: é este o spot que nos faltava.
Esperando na estrada do novo ano novas boleias, deixo àqueles que já embarcaram, alguns recados.
Ao Sérgio, que desde cedo encarnou o espírito do blogue: continua a brindar-nos com a regularidade do teu contributo!
Ao David, que foi o primeiro a incentivar a onda: não te deixes, agora, ficar em terra!
Ao Rui e ao Alex, recém estreados: continuem a vestir o fato!
Ao Picas, ao Alberto e ao Necas (sobretudo ao primeiro, que embarcou no início): que é isso nas dunas, tipo mirones? Não se esqueçam que o vosso registo no blogue vos torna “autores”. Esperamos, por isso, a vossa expressão como tal.
Bom Ano, amigos!
Saúde ao Cantinho da Onda!

P.S. - Felicitemos o(a) nosso(a) primeiro(a) seguidor(a)! (aceitam-se sugestões para um prémio a oferecer).

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

mais respeito!

Um bom Ano e Parabéns ao Blogue pela sua primeira passagem de ano! - pelo que ouvi dizer, esteve bem acordadinho em tal data...
Pena os artistas terem-no abandonado para ir ver o fogo à Ilha... - nem um portátil levaram!
O Blogue exige mais respeito!...

domingo, 4 de janeiro de 2009

viva os reis magos!

Bem, vamos lá ver se atino com isto :), pois esta coisa dos blogs tem muito que se lhe diga.
Fico sempre na dúvida se me meto para aqui a cortar no pessoal (no bom sentido, claro, he, he), tipo: "Ó Picas, estás a olhar para onde?! Não vês que a rapariga tem namorado!!!"
Sim, porque o Picas... atenção com ele! Ou, então, do tipo: "Olha, olha, este deve pensar que é surfista!" Está bem, está, ha, ha, ha, ha! Ou então: "Fotógrafo, tu?! Ha, ha ha... Dizes que tens uma teleobjectiva e depois vamos ver e é uma macro. Melhor, melhor, tens é gajas nuas... uuuuuuuuuuuiiiiiiiiiiii!
Por outro lado, temos: "Ai, e tal, a vida é bonita ou somos todos tão bonzinhos", ou melhor: "O Mundo é perfeito. Perfeito??!! Estamos mas é em crise". E ainda: "O sócrates (repararam? sócrates com letra pequenina, ha, ha, ha) não se lembrou de pôr um fiscal de ondas; ah, e tal, a paulada foi fraquinha, vai ter que pagar uma contribuição maior".
Se bem notaram, estou para aqui a escrever há tanto tempo e ainda não disse nada de jeito. Preparem-se, porque isto vai ser o tipo de texto que vão ter de gramar da minha parte. A vossa sorte é que este blog tem pessoal que até dá na escrita e na guitarra, e aproveitem, pois noutras coisas, uiiiiii, fraquinho :) :).
Fica aqui o meu primeiro tópico, se é que se pode chamar a isto um tópico. Prometo que o próximo vai ser pior :).

Um grande Abraço e viva os Reis Magos!