quarta-feira, 27 de outubro de 2010

cosa nostra

O conhecido bandarilheiro aquático Alexandrito de Portugal vai estar brevemente em Peniche para tomar parte na corrida de beneficência em favor da família do polvo Paul, recém falecido em Oberhausen, na Alemanha.
«O Paul era um polvo muito apreciado cá na terra», referiu Alexandrito, em declarações exlusivas ao nosso blogue, enquanto enxaguava uma lágrima. «Deixou mulher e um filho, ali para os lados da Papoa. Não é para me estar a armar em Brigitte Bardot, ou assim, mas temos o dever de nos solidarizar com a família do bicho e, sobretudo, proporcionar ao polvinho órfão um futuro digno. No próximo ano, por exemplo, podemos pô-lo a adivinhar os resultados do Rip Curl Pro Search», sugeriu.
Uma hipótese, ao que parece, pouco provável, pois, segundo pudemos apurar junto de fonte próxima do presidente da câmara, a Assembleia da República está já a negociar com a capitania de Peniche a aquisição do molusco, a fim de o transferir para o aquário de S. Bento, onde deverá substituir futuramente, em todas as matérias escrutinadas, os deputados faltosos.
Nas palavras dum ilustre politólogo, a quem perguntámos a opinião sobre esta ideia, «os portugueses têm muito que se orgulhar, pois passarão a ser governados por um polvo verdadeiro!»

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

a trompa e o fagote

- Olá, Albertino! Tudo bem?
- Não, Lopes, tudo mal!
- Pois... Népia de ondas!...
- Não é isso, pá! Acabei de saber que Portugal é o nono país mais pobre da União Europeia! Sabes que hoje é o Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza?
- ‘Tás a brincar ou quê, pá?!
- Não, não estou, pá! Como é que um gajo como tu pode andar tranquilamente a fazer balé nesse barquinho a remo, com o país nesta desgraça?
- Mas que visão microcósmica, pá! Desgraça é o Liu Xiaobo ter sido nomeado Nobel da Paz e os chinocas manterem-no encarcerado, isso é que é uma desgraça!
- Liu quem?
- Ah, não sabes?! Francamente, Albertino! Vê lá se começas a ler a rúbrica internacional! Já agora, também estás contra a aprovação do Orçamento do Estado?
- Quero que se lixe o Orçamento do Estado, meu!
- Ah, queres que se lixe o Orçamento do Estado?! Mas vens apregoar a moral por causa de sermos o país mais pobre da União Europeia, não é? E continuas a comprar pranchinhas desse tamanho e a fazer o teu surfezinho burguês, não é Albertino?
- Os gajos do governo também jogam golfe ao domingo, enquanto as mulheres deles queimam no casino os teus descontos dum ano mais depressa do que um daqueles cigarros fininhos que estão na moda!...
- Mau feitio! Se fosses um instrumento de orquestra eras uma tuba, Albertino, ou então uma trompa!
- Antes trompa que fagote de segunda, que é o que tu és, Lopes! Julgas-te muito esperto mas não passas dum ignorante! Olha, como dizia o Newton: o que sabemos é uma gota e o que ignoramos um oceano!
- Ai, sim?! Então, adeus, Albertino. Vai mas é para casa coser meias e erradicar a pobreza, que eu vou continuar por aqui a fazer balé na ignorância!...

sábado, 16 de outubro de 2010

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

o dia em que me cruzei com o taylor knox

Confesso que nunca fui um adepto indefectível do surf de competição, daqueles que andam atrás dos campeonatos e conhecem tudo: os nomes dos astros, as pranchas que usam, as manobras que fazem, os peidos que dão, etc.
Não é que veja nisso algum mal, mas não troco o tempo que tenho para surfar pelo tempo que me ocupa ver os outros fazê-lo. Por isso mesmo, não assisti, no ano passado, a uma única sessão do “World Tour” em Peniche.
Este ano, porém, logo no dia do primeiro “round”, optei por marcar presença com o meu filho nos Supertubos, para lhe saciar a curiosidade e perceber até que ponto o Tiago Pires era capaz de mobilizar mais facilmente que o Cristiano Ronaldo a atenção duma criança de cinco anos.
Chegámos cedo. Chuva para aqui, chuva para acolá; ondas assim, ondas assado; e fomos dar, a páginas tantas, com um gajo suspeito, de cicatriz no rosto, a ser molestado por um repórter televisivo. Puxei da máquina fotográfica e procurei um buraco entre as cabeças que se apinhavam. Era o americano Taylor Knox (em português, Talher Inox), com o seu terrível rosto duro, pior que o do Rambo ou o dum vilão do faroeste.
“O que é que está a acontecer, pai?”.
Depois de lhe ter respondido que estavam a fazer uma entrevista àquele senhor, e de o miúdo me ter perguntado o que era uma entrevista, e de eu não lhe ter conseguido explicar satisfatoriamente o que uma entrevista era, fomos abancar na praia entre o chapéu de chuva dumas miúdas catitas e um tipo com cara de D. Duarte de Bragança, que tinha consigo um par de binóculos, três filhos e um cão.
Apostei que nenhum deles sabia quem eram, naquele momento, os protagonistas do “man-on-man”. Eu também não. Muito menos o meu pequeno companheiro, coitado, que nem sequer podia distinguir, naquele mar castanho, raiado de espuma e luz solar, um elefante que lá houvesse, quanto mais um homem de quem só sobrava pouco mais do que a cabeça.
Acabou, pois claro, por se entreter a enterrar na areia, com uns pauzinhos, o seu interesse pelo campeonato.
Eu cá armei-me em japonês, apontando a máquina para tudo o que mexia, embora deva penosamente lamentar terem-se-me acabado as pilhas no preciso instante em que me preparava para apanhar a Pimpinha e a Xuxinha e a Martinha a comerem Magnuns à borla dentro da tenda da TMN, que nem lontras; e o pior de tudo foi ter falhado o Yannick Djaló a pedir autógrafos ao Taj Burrow, enquanto a boa da Floribela, ali ao lado, ajeitava, fotográfica, a calça justa de algodão que se lhe enfiava teimosamente pelo cu adentro.

no comment


quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Alô, Alô...


- Listen very carefully, I shall say this only once... Get out of the way!!!
- Hum???
- Sim, caso não tenhas percebido, tenho prioridade!
- Mas eu....
- Mau... Olha lá: a minha prancha é maior, vou BEM mais rápido que tu, e caso não tenhas percebido, tenho um paddle na mão...
- Ok, ok, eu saio!!! $%#$%&
- Maçaricos... humpf!