sábado, 26 de fevereiro de 2011

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

ixca e ruka em: "a piscina de ondas"

- Ó Ixca, xabias que durante a bida gajtamus 3 anus na caja de banho?
- Não me admira, Ruka! Paxamos a bida a comer! A minha mãe xempre me dixe: “O que comes, cagaj!”
- Lá ixo é berdade, Ixca! Um dia destes, taba a fajer o xurfe no Molhe Leste e bai nixto engoli um pirolito! Quinje dias depois, obrei uma cobra!
- Uma cobra, Ruka?!
- Xim, xenhor! Uma cobra! E grande como um xourixo!
- Quer-xe dijer, uma ténia!
- Xim, ou bixa xolitária, ou lá o que é! O xenhor doutor dixe-me que agora xó poxo boltar a fajer o xurfe na pixina munixipal, que ao menos os pirolitos de cloro não fajem mal a ninguém!
- Na pixina, Ruka?!
- Xim xenhor! O prejidente da câmara já mandou instalar um xixtema de propulxão e um tatsh scrin que dá para escolher o tamanho daj ondaj que queres e xe é esquerda ou direita, e tudo!
- Táj a gojar comigo, ou quê?!
- A xério, Ixca! Até dá para xelexionar onda cabada e tubular ou gorda e mole, com craude ou xem craude, offshore forte, offshore fraco, xem bodibórderes, étexétera...
- Bai maj é gujare com a tua tia!
- Nunca acreditaj em nada do que eu te digo, caraxas! Parexes o Franxixco Louxã quando o Xócrates fala! Xe eu te dixexe que os indianuj podem cajar com os cães, ou que matar um gato no antigo Egipto daba pena de morte já acreditabas, não?
- Bai maj é labar uj dentej!
- Bai tu!

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

nhá buneca

- Tu num vai surfá hoji lá, mô?
- Hoji não, nhá buneca!
- Má tá onda boa lá, mô! Proveita, mô!
- Hoji num qué, nhá buneca! Hoji eu qué vê à luij dus meus olho nascê di tu barriga e cantá toda noiti serenata pertinho di tu, nhá buneca!
- Cê acha qui vai saí minino ou minina, mô?
- Qué sabê não, nhá buneca! Só qué qui saia pacienti!
- Puquê pacienti, mô?
- Si fô pacienti, vai tê onda, vai tê imprego, vai vê flô crescê, vai tê mulhé mimosa, vai iscrivê livro, vai gravá disko, vai tudo u qui quisé!
- Aaaaaaaiiiiiii...
-Qui foi, nhá buneca?
- Mô, tu podi i procurá prá mim no Pingo Dôci o livro do doutô Miguéu Filipi “A Natividadi Súbita – Como Procedê eim Partus Inisperadus”?
- Qué isso, nhá buneca?! Tu num vai pari aki, vai?!
- Sei não, mô! Tou sentindo uma dô isquisita!
- Brinca não, nhá buneca!
- Tou brincando não, mô! Vai logo no Pingo Dôci, mô! Tu domina bem u viola e u prancha! Mais parto num cridito, mô...
- Hoji é domingo, nhá buneca! O Pingo Dôci tá berto não!
- Ó mô, tão vai ná bomba dá BP, pu favô!
- Cumé qui tu diz qui chama o livro, nhá buneca?
- Tem título comprido, mô! Num há tempo prá tá repetindo! Aaaaaaaiiiiiii! Córri, mô! Tem capa verdi florescenti e tá juntinho das batata frita com presuntu, frenti du ólio DW15 para motoris a diséle, aaaaaaiiiiiiii, qui está opé dos fusíveis, qui por acaso ná BP té são baratus e tem vários dentro da mesma embalageim e uma pessoa podi iscolhê a amperagem qui pricisa sem dificuldadi. Aaaaaaiiiiiiii! Tu lembra no outro dia quando fomo lá comprá uma caixa, dipois di tê dado u fanico à buzina di tua For Trânsiti e di têmo ficado sêim bomba prá dispijá o toclismu da sanita química, mô?

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

ixca e ruka em: "o mar sem surfar"

- Ó Ixca, bamos lá dar mújica ó pexoal, quisto tá muito paradito!
- Olha, Ruka, bou tucare o Requiem em lá menore, do Mojart.
- Ó pá, marchas fúnebres não! O pexoal já tá a morrere e tu a quereres morrê-los mais deprexa ainda!
- Não é "morrê-los", é matá-los, Ruka!
- Tás-me a dar lixões de portuguêje, ou quê, Ixca?
- Parexes o Jejus a falare, méne!
- Não te admito ixo, Ixca! Debias penxare bem antes de fajeres exas comparaxões! Gojare com a religião das pexoas é pecado!
- Qual pecado, méne?! A minha religião é o xurfe, méne!
- Jejuj debia castigar-te! Não tens medo de xere cajtigado?
- Eu não, Ruka! A única coija de que eu tenho efetibamente medo na bida é daj aranhaj e duj ácaruj e daj abelhaj e daj cobraj. No outro dia, por acajo, estaba eu a metere o écxe na pranxa e aparexeu um cardume de abelhaj que beio direito a mim não xei porquê e eu tibe de correre para o mare para elaj não me picarem. Foi a primeira bez em muito janos que entrei no mare xem xurfare!
- Olha, deixa-te maj é de cumberxas e toca aí uma xena do João Pedro Paij, anda!
- Fosgaxe!
- Toca lá!
- João Pedro Paij? Fosgaxe, méne! Agora é que me tiraste a pica toda!...
- Não queres, não toques, prontos! Olha, bai majé labar exes dentes, que xtão toduj cagaduj!
- Bai tu!

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

a influência da pesca (e da ti' Raimunda) na história do surf em peniche

Podia ser um simples retrato vintage, ao gosto revivalista dos tempos que correm, e fazer capa no “Almanaque das Férias Grandes antes do 25 de Abril”, ou coisa do género, e morar nos tops das Bertrands e das FNACs. Mas é apenas a fotografia de três amiguinhos de Peniche, todos eles mais velhos que o Kelly Slater, e que naquele dia de 1974 operaram no mundo aquático do Oeste uma revolução histórica. Dos cravos? Não. De rabos de lagartixa, tampas de sanita, cocó de burro e mais não dizemos antes de leres o resto.
Alberto Reis, Alberto Carvalho, e Quim Moura "Corvo". Três testemunhos duma conclusão inédita na historiografia do surf penicheiro: começou tudo com uma cana de pesca, na manhã do mesmo dia em que o ti’ Germano os fotografou com a sua Kodak comprada na América!
O Alberto Carvalho foi quem nos cedeu a relíquia, ainda na sequência do nosso pedido para a história anterior. Ouvimos e registámos, com muito orgulho e sentido de responsabilidade, o que nos contou sobre ela. Depois, fomos ouvir o Reis e o Corvo, não fossem eles reclamar mais tarde o direito ao contraditório...

Alberto Carvalho
Naquele dia, tínhamos pescado uns robalos com a cana do Corvo, que lhe tinha sido oferecida pelo ti’ Valério da Atouguia, como prémio de ele ter passado de classe. Fomos de bicicleta até ao sítio onde é hoje a marina e toca a engodar! O Corvo, como tinha um quintal com buganvílias ao correr dos muros onde se enfiavam as osgas e as lagartixas, tratou logo de abater uma dúzia delas com a raquete de badminton da irmã. Depois, com o canivete do Reis, cortámos-lhes os rabos e enfiámo-los, à vez, no anzol. Tal como esperávamos, o peixe desatou a ferrar! Em pouco mais de uma hora, apanhámos para aí uns cinquenta! Na foto, só já se vê os que sobraram, depois de termos trocado os restantes pelas pranchas de surf duns ingleses esfomeados que tinham aparecido lá num autocarro a cair aos bocados. A partir desse dia, e graças aos robalos, abandonámos o skimming, que já praticávamos havia muito tempo com tampas de sanita, e começámos a fazer surf. Demos, definitivamente, um salto gigantesco na nossa evolução!

Alberto Reis
Já não me lembro muito bem, mas acho que fomos os três, a um sábado, para o Molhe Leste com a cana do Carvalho, que o ti’ Germano de Ferrel lhe tinha oferecido quando ele fez a primeira comunhão, e apanhámos por lá uma cardumada de carapaus, que fomos comer depois para casa do Corvo. A ti’ Arlete alimou-os e foi à taberna do ti’ Lúcio comprar umas gasosas para a malta e depois passámos lá o resto da tarde a dar peidos e a arrotar enquanto víamos o TV Rural, que por acaso nesse dia falou sobre os malefícios da chuva em excesso e mostrou a imagem dum gato a deslizar num regueiro sobre um alguidar de plástico. Foi nesse momento que o Corvo teve a brilhante ideia de arrancar a tampa da sanita à tia Arlete e no dia seguinte fomos os três fazer skimming para os Supertubos. O Carvalho foi o que conseguiu aguentar-se mais tempo em pé. Adquiriu rapidamente uma técnica precisa. Lançava a tampa da sanita a toda a velocidade sobre o refluxo da onda, desatava a correr que nem uma gazela e era ver o Carvalho a saltar-lhe para cima, a fluir todo teso em cima dela, até que a água lhe faltava subitamente por baixo, a gaja encalhava e fazia-o voar. Ah, Carvalho!

Quim Moura "Corvo"
Belos tempos! Só de olhar para a fotografia, dá-me vontade de chorar! Naquela altura, ainda tínhamos todos cabelo! A cana de pesca era do Reis e tinha-a recebido do ti’ Mariano de Geraldes, como recompensa por tê-lo ajudado a construir a sua última traineira, com paus de fósforo. Nesse dia, fomos para o Portinho da Areia e fartámo-nos de apanhar cavalas, com um engodo especial feito pelo Carvalhinho, à base de moscas e cocó de burro. Depois, fomos vendê-las ao refeitório da capitania, e a ti’ Raimunda, que trabalhava lá como cozinheira, fez uns filetes de vinagrete tão bons que a receita espalhou-se num instante e ficou célebre! Ainda hoje vem gente de fora aos restaurantes de Peniche só para comer os famosos “Filetes de Cavala à Ti’ Raimunda”! Mas o melhor da ti’ Raimunda nem foi o "chop-chop"! Foi simplesmente o chop! Ah, pois foi! Eu usava nessa altura a tábua de engomar da ‘nha mãe para surfar no Carreiro de Joanes. Cada vez que fazia uma onda e caía, escortanhava-me todo nas rochas e demorava bué a recuperar a tábua porque naquela altura ainda não havia chops em Portugal. A ti’ Raimunda, que costumava passar por ali todos os dias a caminho do trabalho e já conhecia o meu calvário, teve misericórdia de mim e, em certa ocasião, trouxe-me um saquinho de plástico com uma coisa lá dentro e disse-me: «Toma lá, Corvinho. É só fazeres um buraquinho e dares um nó». Era um tubo de clister!...

sábado, 22 de janeiro de 2011

breakfast in america

Também naquele ano havia eleições. Maria de Lurdes Pintassilgo: diz-vos alguma coisa? O apelido, canoro, soava bem. E como a nossa Maria de Lurdes era mulher e representava o desapego dos tachos e da vassoura (assim observava o meu vizinho do lado, que se chamava Custódio e não era anjo nenhum), tornou-se distinta e elegível, como a Dilma Roussef.
Naquela tarde inesquecível de 1979, o ainda imberbe mas já de porte vigoroso Alberto Carvalho (que, para quem não sabe, faz parte da história do surf em Peniche), deslocou-se às Caldas da Rainha com o tio Germano, que tinha um Porsche 911 da cor do Benfica.
«No fim do bilhar, vamos à loja e compro-te o álbum dos Supertramp».
Assim o disse, assim o fez. Depois de vencer às três tabelas o célebre Ferraz, que metia medo com o seu rosto cheio de bexigas, o tio Germano conduziu o Bertinho à discoteca e ofereceu-lhe o “Breakfast in America”, como recompensa por não ter chorado na última ida ao dentista.
Melhor do que isso, o tio Germano levou-o consigo a passar quinze dias na Califórnia, em casa dos Feldmann, uma família de Malibu que se envolvera com o tio Germano no negócio de importação de abóboras de Ferrel para os Estados Unidos do Halloween.
O nosso amigo Alberto, que já surfava no Baleal desde o tempo da Maria Cachucha, terá sido talvez o primeiro portuga a comer Corn Flakes antes de remar cheio de baba nos picos lendários de San Onofre e Sunset Beach.
Ontem liguei-lhe, para lhe dizer que tencionava contar esta história aqui no blogue e documentá-la com aquela velha fotografia que me mostrou uma vez no seu álbum de viagens.
«Está bem, mas não te esqueças de mencionar que aquele pranchão era do Dewey Weber e que o miúdo mais pequeno era o John, primogénito dos Feldmann, que deve ter hoje uns 34 ou 35 anos e que é o vocalista dos Goldfinger! Até parece mentira!...»

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

em que pensam os surfistas enquanto surfam?

Para responder a esta pergunta, instalámos, no último domingo, sobre as dunas da baía, um escutador de pensamentos que comprámos no IKEA e que direccionámos para nove surfistas categorizados que brincavam nas ondas da manhã.
Uma experiência inédita no mundo do surf - exclusiva do Cantinho da Onda! - e que vem contrariar totalmente a velha teoria de que o surfista não pensa em nada enquanto surfa. Vê os resultados e depois diz-nos: ainda acreditas nisso?

Vítor Caixa
Será que os ovos do jantar de ontem estavam estragados? Tenho de sair já daqui, senão borro-me todo!... Sempre ouvi dizer que as galinhas do Oeste não são de confiança! Eu devia era ter pedido uma alheira de bróculos, como aquela que comi a semana passada na feira de enchidos vegetarianos de Oliveira do Bairro! Por que raio não fabricam fatos de surf à medida das necessidades, com barguilha traseira de emergência, como tinham os mergulhadores do Jacques Costeau? A torneirinha daquela pipa de vinho antiga que tenho lá em casa... hei-de adaptá-la! Como não preciso de me sentar na prancha...

Rui Lopes
Como é que eu me fui esquecer de comprar o Skip? Não tenho uma única camisa branca para ir amanhã ao baptizado do filho da Catarina Furtado! Não vou vestir a que costumo usar nas aulas do Centro Hípico de Alhandra! Vai toda a gente zombar dos cavalinhos estampados. Mas que ideia havia de dar na cabeça daquela gaja para baptizar o puto já amanhã, que o vento vai estar de Sul! E a prenda? Que vou eu dar ao chavalo? Talvez um iô-iô de metal, que é para aprender rapidamente o vai-acima-vai-abaixo e partir aquele dálmata de porcelana foleiro que ela tem no hall de entrada! Toma lá que já comes!

Pata
Não percebem nada de flautas e depois põem-se a dizer que a flauta é um instrumento vulgar, que até os miúdos de seis anos sabem tocar de olhos fechados! É, é! Há uns vinte anos que toco flauta e tenho a sensação que sei tanto de flauta como vocês do índice PSI-20! Se eu tocasse na flauta umas cenas do Jack Johnson ou do Donovan Frankenreiter, já gostavam! Ou então se fosse convidado para tocar na orquestra do Youtube! Surfista até rima com flautista... Por isso, não era nada mal pensado experimentar a técnica do tocador de Hamelin, a ver se esta praga de ratos desaparecia rapidamente daqui para fora!...

David Griffith
Eu não poder aceita’r iss’, po’ra! Sócrat’s ser muit’ pior que Xerif de Manchester! Pagar impost por surfar depoish de 65 anosh?! Se haver pouc’s velhos para trabalar, eu não ter’ culpa, po'ra! Eu não nascer cá, po’ra! Eu querer ver Sócrat’s viver no rulot e ter de comprar um pacot’ manteiga todosh diash! E um aguardent’ todosh diash! E um bisnag’ de pó para matar os formig’s todosh diash! E um embalage de oil para meter no cu-rrent’ do biciclet’ todosh dias! E um pacot’ palh’ d’aço para tirar do rulot o fer’ugem e o coco de gaivot’s todosh diash! Se Sócrat’s querer tesos para trabalar para el, que vá mash é às Caldas!

Jorge
A pele dos bebés é cinco vezes mais fina que a dos adultos, por isso não devem tomar banho todos os dias! Pelo menos, foi o que ouvi dizer no supermercado quando fui comprar o Pankreoflat e as pastilhas Rennie! Vou-lhe dizer assim, a ver se ela se convence e não gasta a pele à miúda, que qualquer dia tem um problema qualquer e, quando crescer, ainda me ganha uma alergia ao neoprene, ou assim. Safa! Anda um homem a constituir família para depois os filhos lhe desaparecerem, puídos, numa banheira de água doce! Vai mas é passar a tomar banho só aos domingos! Quando crescer e vier à praia, já pode tomar todos os dias.


O cão cagou? Por acaso o cão cagou? E o diabo da mulher a teimar que sim, que o cagalhão no passeio era do meu Mufy! O meu querido Mufy pode ser muito porco, minha senhora, lamber o cu dos outros, e tal, mas nunca cagou num passeio, só gosta de terra ou de alcatrão! E a besta a teimar que o cão cagou! Se, naquele momento, eu tivesse à mão uma prancha, garanto que lha desfazia na cabeça! E havia de ser uma prancha grande, uma paddleboard XL que, quando lhe batesse em cima, se desfizesse totalmente em merda, que era para meter a besta no mesmo saco que serve para meter as poias do meu querido Mufy!

Alex
Se há coisa que me irrita é não porem os preços nas coisas, pá! Atão um gajo vai a uma loja de animais comprar um bichinho para oferecer e tem de perguntar: quanto é que custam os ratinhos da Índia? Quanto é que custam os periquitos? Quanto é que custam os peixinhos vermelhos? Porra! Foi como, em Dezembro, na feira do gado de Monchique. Tanto boi, tanta vaca, e nada com preço marcado! Custava alguma coisa meter uma etiqueta no animal? É preciso um gajo perguntar, é preciso um gajo tudo! É como eu de manhã aos sábados antes de vir para Peniche: é preciso um gajo perguntar: onde é que tá a minha prancha? onde é que tá o Cola Cao? onde é que tão as minhas peúgas?

João Carvalho
Ó pai, dava-me jeito que me comprasses uma casita ali em França para quando eu fosse lá aos campeonatos... Não, não posso colocar a coisa desta maneira, senão responde-me logo: “quem dá jeitos são as putas!” Ó pai, podes-me comprar uma casita ali em França para quando eu for lá aos campeonatos?... Também não. Vai-me logo dar uma resposta comprida e gordurosa, do tipo: posso, mas não compro. Aliás, não te compro mais nada enquanto não souberes qual é a fórmula química da água estagnada e a simbologia da bandeira nacional! O que é que representam as cinco quinas? Os sete castelos? A esfera armilar? Qual é o alcance dum míssil balístico intercontinental?...

Lapas
Se aquele escutador de pensamentos resultar, vai ter de registar que eu questiono agora mesmo a sua eficácia. Vai ter de reproduzir que eu estou agora mesmo a flutuar numa onda e não penso em mais nada a não ser na onda e na velocidade da onda e que ainda me doem os tomates da queda desamparada que dei há um bocado numa outra onda e que vale a pena ter dores nos tomates por causa de ter caído numa onda porque isso é sinal de que estou vivo e tenho tomates para me doerem, um bocadinho mais, até, do que nas brincadeiras parvas do tempo da escola, quando levava uma sapa e ficava ali estupidamente a contorcer-me, sem a prancha nem o mar à volta...

Fotos: Mariana

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

o orgulho possível

Por exemplo: ele nunca fez surf. Sabemos, alguns de nós, que coleccionou selos. Mas nunca fez surf. Sei-o eu, por exemplo, que sou suspeito – uma mancha na minha vida, admito – os selos, claro!
O raio do homem confessou mesmo numa entrevista recente que tem um perfeito domínio da gíria filatélica: sabe o que é um barrado, um carimbo mudo, uma mancolista, um tête-beche, tal como nós sabemos muito bem o que é um take-off, um bottom-turn, um off-the-lip!
É um senhor!
E, com um bocadinho de paciência e uma ligação à internet, podemos descobrir coisas ainda mais substantivas da vida dele, como ter mandado plantar no jardim da casa-de-banho (sim, ele tem um jardim na casa-de-banho da sua vivenda em Madrid!) um canteiro exclusivo de amores-perfeitos, que era a flor favorita da avó Guilhermina, que por acaso morava na Costa da Caparica ao pé da primeira surfshop que lá existiu, em meados de oitenta.
Sabe-se, porém, que a devoção à avó Guilhermina convive estranhamente dentro dele com outra que poucos lhe conhecem, mas que um empregado do seu fornecedor de móveis fez o favor de divulgar há uns tempos no Youtube, quando publicou levianamente um vídeo feito à socapa no escritório onde lhe instalou uma secretária de madeira exótica, perto da qual se vê num quadro de parede a fotografia de Lenine a proferir um discurso na Praça Vermelha, em 1919.
O facto, por si só, poderia ter-lhe valido a proscrição, como sucedeu a Saramago. Mas acabou por ser salvo recentemente pelo testemunho da sua ex-cozinheira, uma espanhola luso-descendente, chamada Carmelita e filha de um carniceiro de Pamplona, que veio revelar na sua página do Facebook que o melhor treinador de futebol do mundo tem o estranho hábito de comer ao pequeno-almoço couve-flor e feijão frade, tudo regado com um portuguesíssimo Sumol!
Claro que temos todos patrioticamente muito orgulho neste amor-perfeito! Íamos ficar à espera do Tiago Pires, não?

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

surfix obelix

Sitiados
- Ei, vocês aí, que menires são esses que tanto se vê neste pedaço da Hispânia?
- Obelix! Não acredito! És mesmo tu?
- Por Tutatis! De onde é que vocês me conhecem? Romanos disfarçados a quem alguma vez terei enfiado uns tabefes, aposto! Tu, ó baixinho, tens cara de normando e de quem gosta de leite-creme mesmo que esteja estragado. O teu amigo, branquinho como é, só pode ser do norte! Pela pose épica, aposto que acabou de atravessar o Báltico a bordo do seu menir levezinho!
- Quanto ao meu amigo, acertaste! É Ricardic, “O Godo”. Mas eu não sou normando, merda! Se fosse normando, não seria baixinho nem educado. Eu sou Sergion, “O Hispânico”.
- O.K., Sergion. Mas não te irrites! Nem dês bufas, está bem? Sempre ouvi dizer que os hispânicos dão muitas bufas e isso deixa-me mal disposto e fraco, o que não pode acontecer agora, pois tenho de transportar este menir até ao Pico da Mota, para sustentar uma coisa que se chama surf selvagem e que, segundo me disseram, se encontra a ruir!
- É verdade, Obelix! Tudo por causa dessa corja de legionários que se tem vindo gradualmente a instalar por aqui com os seus menires levezinhos. Não tarda, isto há-de tornar-se o acantonamento principal do império e nós vamos acabar sitiados junto à Ribeira de S. Domingos, onde o cheiro é pior que o das minhas bufas... Oh, ye!
- Bom, gostei muito de te conhecer, ó hispânico, bem como a ti, ó godo, mas ‘tá na hora de zarpar. Adeus e obrigado pela ideia! Levarei comigo para a Gália pré-cristã e para as suas ondas despovoadas o vosso modelo de negócio. E lá instalarei a “Surfix Obelix”, uma loja de menires levezinhos, para que todo o meu povo possa tranquilamente recrear-se com eles o ano inteiro.
- Ondas despovoadas?! Espera por nós, também queremos ir!


À parte
- A sério! Eles puseram-se a brincar com as pranchas atrás das costas, assim como eu estou agora, e o Obelix apareceu com um menir e meteu conversa com eles. Chamou “normando” a um e “branquinho” ao outro!
- Ah, ah, ah, ah, ah, ah, ah, ah, ah!
- O nosso amigo do Arneiro das Milhariças ficou danado com essa do "normando"!
- Ah, ah, ah, ah, ah, ah, ah, ah, ah, ah, ah, ah!
- O Obelix tratou logo de o acalmar e avisou-o que era melhor não começar com as bufas...
- Ah, ah, ah, ah, ah, ah, ah, ah, ah, ah, ah, ah, ah, ah, ah, ah, ah, ah, ah, ah, ah, ah, ah, ah, ah, ah, ah, ah, ah, ah, ah, ah, ah, ah!
- Olha se ele tivesse aparecido naquele dia em que comemos a feijoada?!
- Ah, ah, ah, ah, ah, ah, ah, ah, ah, ah, ah, ah!
- Se não fosse o cheiro, punha a história no blogue! Mas como ele já não anda muito apelativo, é melhor acautelar-me...
- Ah, ah, ah, ah, ah, ah!
- ... Até já tinha pensado num título: “Surfix Obelix”. E depois juntava-lhe uma fotografia dos nossos amigos tirada no momento em que apareceu o gaulês com o menir. Deve ter sido nesse instante que o "Sergion" engoliu a bufa, antes que o outro lhe enfiasse um tabefe!
- Ah, ah, ah, ah, ah, ah, ah, ah, ah, ah, ah, ah, ah, ah, ah, ah, ah, ah, ah, ah, ah, ah, ah, ah, ah, ah, ah, ah, ah, ah, ah, ah, ah, ah!
- Quanto a nós, podíamos entrar na segunda parte da história, com a transcrição desta conversa, sob o título “À parte”, pois ela não acrescentaria nada de novo ao assunto a não ser as tuas gargalhadas...
- Ah, ah, ah, ah, ah, ah, ah, ah, ah, ah, ah, ah!