quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

o orgulho possível

Por exemplo: ele nunca fez surf. Sabemos, alguns de nós, que coleccionou selos. Mas nunca fez surf. Sei-o eu, por exemplo, que sou suspeito – uma mancha na minha vida, admito – os selos, claro!
O raio do homem confessou mesmo numa entrevista recente que tem um perfeito domínio da gíria filatélica: sabe o que é um barrado, um carimbo mudo, uma mancolista, um tête-beche, tal como nós sabemos muito bem o que é um take-off, um bottom-turn, um off-the-lip!
É um senhor!
E, com um bocadinho de paciência e uma ligação à internet, podemos descobrir coisas ainda mais substantivas da vida dele, como ter mandado plantar no jardim da casa-de-banho (sim, ele tem um jardim na casa-de-banho da sua vivenda em Madrid!) um canteiro exclusivo de amores-perfeitos, que era a flor favorita da avó Guilhermina, que por acaso morava na Costa da Caparica ao pé da primeira surfshop que lá existiu, em meados de oitenta.
Sabe-se, porém, que a devoção à avó Guilhermina convive estranhamente dentro dele com outra que poucos lhe conhecem, mas que um empregado do seu fornecedor de móveis fez o favor de divulgar há uns tempos no Youtube, quando publicou levianamente um vídeo feito à socapa no escritório onde lhe instalou uma secretária de madeira exótica, perto da qual se vê num quadro de parede a fotografia de Lenine a proferir um discurso na Praça Vermelha, em 1919.
O facto, por si só, poderia ter-lhe valido a proscrição, como sucedeu a Saramago. Mas acabou por ser salvo recentemente pelo testemunho da sua ex-cozinheira, uma espanhola luso-descendente, chamada Carmelita e filha de um carniceiro de Pamplona, que veio revelar na sua página do Facebook que o melhor treinador de futebol do mundo tem o estranho hábito de comer ao pequeno-almoço couve-flor e feijão frade, tudo regado com um portuguesíssimo Sumol!
Claro que temos todos patrioticamente muito orgulho neste amor-perfeito! Íamos ficar à espera do Tiago Pires, não?

Sem comentários: