sexta-feira, 24 de setembro de 2010

entre dois mundos

Era uma vez um nadador-salvador que salvava vidas entre duas praias: a praia de cima e a praia de baixo. Um dia, quando chegou ao trabalho, encontrou um menino que lhe perguntou porque é que os nadadores-salvadores eram tão grandes e fortes.
- Eu explico-te – prometeu ao menino o nadador-salvador – mas primeiro tens de me ajudar a montar o posto de vigia.
Selado o acordo, o nadador-salvador entregou ao menino uma bóia branca e uma corda cor-de-laranja.
- Levas-me isto, por favor?
Depois de ter dado meia dúzia de passos, o menino queixou-se:
- Esta bóia é mais pesada do que o pneu com que costumo brincar lá na escola!
O nadador-salvador sorriu e disse:
- Percebes agora por que razão tem o nadador-salvador de ser grande e forte?
Depois de o nadador-salvador içar no mastro a bandeira amarela, o menino perguntou:
- Essa bóia gigante serve para salvar o Mundo? Já ouvi dizer ao meu pai que o Mundo se está a afundar!
- Infelizmente, tenho de concordar com o teu pai! – admitiu o nadador-salvador.
- Deixa lá – continuou o menino –, se um dia o Mundo se afundar, o meu pai vai comprar um escadote grande e nós vamos viver para a lua. Se tu quiseres, também podes vir connosco e salvar vidas nas praias de lá.
Enquanto o menino cogitava na hipótese de conhecer um dia os mares da lua, o nadador-salvador enterrou na areia uma placa delimitadora e explicou ao menino que a razão de o Mundo estar a afundar-se era a desigualdade:
- Quando eu era criança – evocou ele – aprendi com o meu avô que existem dois mundos: o mundo dos ricos e o mundo dos pobres.
- E qual é a diferença entre os dois? – quis saber o menino.
- O mundo dos pobres é como a praia de baixo, onde a bandeira está sempre vermelha. O mundo dos ricos é como a praia de cima, onde está sempre verde – esclareceu amistosamente o nadador-salvador.
Naquele instante, o menino olhou de novo para o cimo do mastro e questionou:
- Então, a que mundo pertence a praia do meio?
- Desde que estalou a crise mundial, não pertence a nenhum – revelou o nadador-salvador –, é por isso que está sempre vazia. Todos sucumbiram por terem ignorado os perigos da bandeira amarela.
O menino coçou a testa e decidiu:
- Vou-me embora. Pode ser que o meu pai queira ir já à loja comprar o escadote!
- Adeus e obrigado pela ajuda! – gritou o nadador-salvador, enquanto o menino se afastava.
E foi fazer a sua ronda na praia de baixo, remoendo para si que, para aqueles lados, infelizmente, havia sempre alguém a afogar-se...

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

O filminho

Para além das fotos foram também apanhados na Handycam.
Um pouco à pressa mas é com prazer que os ponho no mundo do Surf.

Até sábado.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

apologia do surf

- Sabes, Maria, tenho a sensação de que ainda vai chover hoje!
- Cala-te, Manel! Deixei as cordas cheias de roupa!
- Por falar nisso, que detergente é que usas? Ultimamente, as cuecas cheiram tão bem!
- Foi desde que mudei para o Surf.
- Ah, pois. Parece que, hoje em dia, toda a gente aderiu ao Surf. Até já existem escolas e tudo!
- Não sei para quê! Aquilo é só juntar duas tampas, carregar no botão e pronto, já está!
- Foi uma grande invenção, realmente!...
- Claro que sim! O Surf é um sucesso! Ou melhor: uma verdadeira máquina de fazer dinheiro! Vê bem que, agora, até já há o Surf flores tropicais & ylang ylang! E limpa tão bem que já não tenho vergonha de te ver usar peúgas brancas com as sapatilhas.
- Sim, na verdade, nunca mais cheirei a cholé! Vê bem que, hoje de manhã, quando fui à padaria, até vi a chinesa da loja Ling Chung a sair do supermercado com o Surf na mão...
- De que cor era esse Surf?
- Cor-de-rosa.
- Pois... Era o de lavanda e flores orientais. Cá para mim, já devem andar com ideias de piratearem o Surf, esses malditos chineses!...
- Foi o que me disse o nosso neto Carlitos, que estava comigo na altura. Mas ele é da opinião de que, como o Surf é uma marca registada, os chinocas vão contrafazer o produto e dar-lhe outro nome: Bodyboard!
- Até pode ser que sim. Mas duma coisa tenho a certeza: nunca conseguirão reproduzir as sensações do verdadeiro Surf!

domingo, 19 de setembro de 2010

surfada da manhã

Foi depois de alguns telefonemas que me fiz à estrada a caminho do Baleal.
A razão era, tão somente, a impaciência de alguns surfistas para ficarem no registo da pequena máquina.
Uma boa manhã, em que não faltaram as mais altas individualidades da Cidade de Peniche (presidente da câmara) junto do responsável do blogue.
Foi com agrado que vi mais uma vez a Té na limpeza da praia (terá sido por isso a aproximação do chefe máximo, no sentido de "queres emprego ?").
Aqui ficam algumas dos nossos amigos.
1 abraço.










quinta-feira, 16 de setembro de 2010

bye, rusty!

De tantas vezes que entramos no blogue, já nem nos damos ao trabalho de fixar os olhos nos conteúdos mais estáticos, nomeadamente alguns dos que se encontram na coluna à direita, como o “cantinho do cão”, onde os nossos amigos de quatro patas parecem ter cristalizado há mais de um século.
Na parte que me toca, tenho olhado mais para lá nas últimas semanas do que em todo o tempo restante, desde que o blogue nasceu.
Infelizmente, encontro agora mais uma razão para o fazer, já que o bom do Rusty acabou de juntar-se à eterna viagem do vizinho Pompeu.
Na minha memória, perdurará a foto com o colar havaiano, o seu focinho bonacheirão e as rabias que me fez numa certa altura em que lhe dei a ração, na ausência dos donos, há cerca de um ano atrás. O Rusty era mesmo muito catita, e eu imagino, com uma tremenda cumplicidade, o doloroso close out que se terá abatido nos corações do Rui e da Cláudia.
Para eles, aquele abraço solidário!

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

quero fotografar-te nua!

“Noseriding gives you a perfect sensation of weightlessness. It reminds me of how a bird rides the back draft of the wind, gliding”.
Depois de ter lido estas palavras da longboarder australiana Belinda Baggs e de a ter descoberto numa soberba fotografia em que parece querer demonstrar aquela mesma afirmação, caiu-se comigo uma vontade doida de ir passear com ela para o Sri Lanka e recitar-lhe poemas.
Bindy, nome por que também é conhecida, possui uma aura admirável, destoando largamente da surfergirl estereotipada, tal como destoa largamente uma pomba duma arara.
O surfista e fotógrafo Dane Peterson teve a sorte de se cruzar com ela e transformar-se no seu albatroz inseparável. Arrisco-me a adivinhar-lhes um serão caseiro, depois de mil noses em pose etérea e graciosa terem entrado pela retina do afortunado Peterson. Limpando meticulosamente as teleobjectivas, enquanto Belinda lhe prepara uma omelete à James Oliver, ele não se contém:
- Quero fotografar-te nua!
Bindy queima-se na frigideira e deixa sair um “fo*@-se”.
Dane larga imediatamente o equipamento fotográfico e corre para Bindy, que chupa o dedo indicador.
- Magoaste-te, querida?
Ela olha-o de esguelha, atirando-lhe com desdém forçado:
- Andas a trabalhar para o Cantinho da Onda?!
- Deixa-te disso, ‘môr!
- Eu sei que eles te pediram uma fotografia minha...
- ... Dei-lhes aquela da Patagónia.
- Vê lá o que fazem com ela! Têem por lá um gajo que costuma inventar umas histórias!...

como uma pluma

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

ondas e preconceitos

Este domingo, fiz uma visita à Praia do Moinho de Baixo. Dito assim, muita gente não sabe que me refiro a uma das mais emblemáticas do país, sobretudo pelas razões que levam muitos adeptos do despudor a frequentá-la. Falo-vos, pois claro, da Praia do Meco.
É preciso referir que a prática do nudismo, ou naturismo (de acordo com os mais puristas), ali se faz desde que o 25 de Abril começou a despir de preconceitos a sociedade portuguesa. Portanto, quem, indo lá, ainda se deixa ferir pela indiscrição da coisa, tem sempre a possibilidade de se fixar na zona central da praia (na imagem, para lá do rochedo), imediatamente a norte da área onde mora o pessoal em pêlo; ou, em última análise, optar por qualquer uma das outras mil praias da nossa extensa costa, essas sim, tradicionalmente habitadas pela tribo do têxtil.
Quanto a mim, só uma ocasião de circunstância, como foi o caso, me podia arrastar para aquelas paragens. Não porque me afectem as melancias ao léu ou os pirilaus, mas porque o meu (pre)conceito de praia está irremediavelmente contaminado pela minha condição de surfista.
Como já conhecia o Meco desde miúdo - os meus pais frequentaram durante muitos anos o local -, sabia bem que a possibilidade de surfar lá era diminuta, devido ao declive do areal no ponto de contacto com o mar, o que provoca uma rebentação estupidamente tardia e, por isso mesmo, inútil.
Apesar de tudo, não deixei de alimentar uma remota esperança, tendo mesmo transportado o belo do fato na bagageira, não fosse o diabo tecê-las - nesse caso, havia de encontrar alguém que me emprestasse uma prancha para salvar o dia.
Ao chegar, porém, caíram por terra as expectativas. A ondulação, mesmo sem vento a apoquentá-la, comportava-se exactamente como o previsto. Ainda assim, e porque estávamos na baixa-mar, não deixei de comer com os olhos alguns sets que rebentavam esporadicamente mais atrás. Com um pouco de astúcia, seria possível, pelo menos, dropá-los, executar um bottom e sair em seguida, antes do “côco” apocalíptico na areia, onde os poucos banhistas que ousavam molhar-se lutavam para não serem tratados como peças de roupa na máquina de lavar.
Perante este cenário, lá tive de fazer um esforço para estender a toalha, onde me sentei melancólico e pensativo, limitando-me a comprovar o meu preconceito com a praia, que só faz efectivamente sentido a cheirar a wax e bem vestida de ondas...
Foto: Vítor Oliveira (feriasemportugal.pt)

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

terça-feira, 7 de setembro de 2010

singularidades

1. Animal eléctrico
Trabalho e conhaque não casam. Desde que começou a andar com softboards e NSPs no tejadilho da Opel Combo, nunca mais ninguém o viu numa jantarada ou noutra espécie de serão social. Foi preciso uma caldeirada à moda antiga, cozinhada no lume brando da camping gaz, e o belo do tinto à mistura, para o trazer de volta à boémia nocturna do Baleal. E cheio de vigor, como um idoso acabado de tomar Viagra! Que o digam as moças que afluíram, numa certa madrugada, ao Bar da Praia. Aí, cegaram com os flashes. O palco era dele. Pulando, como um corcel selvagem, sobre as mesas. Arreganhando compridamente a dentadura branca e relinchando. Quem era o animal eléctrico? E as fotos para que revista?

2. Xano
Talvez se lembrem de Rain Man, o filme de 1988 protagonizado por Dustin Hoffman e Tom Cruise, que desvendou ao mundo os meandros do autismo através duma história singular e cativante. Antes de ver na tela as personagens de Raymond e Charlie Babbitt, eu já as conhecia, na pele do meu grande e velho amigo Miguel Ramos e do seu querido irmão Alexandre (Xano). Trouxe-os, em Agosto, ao Baleal. O incrível Xano acompanharia o sobrinho (André, filho do Miguel) na iniciação ao surf. “Fugir-me-ia” com a bicicleta para conhecer Peniche à sua maneira, como se fosse um autocarro urbano. E deixou rasto. Tal como aconteceu com Raymond no grande ecrã, ninguém conseguiu ficar indiferente à sua inocência desconcertante.

3. Como chocolate
Há uns tempos atrás, trouxe-vos a história de Jaylan Amor, um miúdo australiano que, ainda mal deixara as fraldas, já apanhava umas carreirinhas com uma agilidade espantosa. Numa espécie de versão caseira, o mês de Agosto proporcionou-me o especial prazer de partilhar momentos inesquecíveis com alguns Jaylans do nosso “quintal” (Sebastião, Diogo, João, Tomás). O futuro é uma coisa muito incerta e comprida, e deslizar numa onda uma experiência absolutamente concreta e momentânea. Por isso mesmo, não sabemos ao certo se os nossos miúdos irão, como nós, querer repeti-la pela vida fora. Mas desejamos que não percam, pelo menos, a oportunidade de a terem. E, já agora, que lhes saiba deliciosamente, como chocolate...

4. Até sempre, companheiro!
Já não posso pedir-te a patinha nem atirar-te pelo ar uma bola ou um caroço de maçã; assobiar-te na praia enquanto corres como uma chita atrás da última gaivota da tarde; ver-te à janela do nosso hotel de quatro rodas em pose de aviador; confiar-te na boca missionária o jornal de sábado; sentir nos dedos o teu realístico focinho frio, a pedir festas; dar-te um banho de mangueira no seio do inverno alentejano, depois de te espojares alegremente em bosta de vaca; ver-te, melhor que um camaleão, a caçar moscas; arreliar-te com o colar isabelino e a Betadine nas unhas, por causa dum fungo estranho; ouvir-te ladrar aos besouros e aos pombos; ver-te saltar alegremente à minha volta a cada encontro, mesmo depois da mais breve ausência... Até sempre, companheiro!

sábado, 4 de setembro de 2010

A surfada da manhã







Não fosse o André estar na frente teria tirado umas melhores ao Luis e ao Ricardo.
1 abraço amigos.

History of Greed - Vancouver Film School (VFS)

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

adeus amigo

Sim, é com tristeza que escrevo este post, o nosso companheiro de surfadas de fim de semana deixou-nos e partiu para uma surf trip solitária, adeus amigo até um dia destes...





Foto : Surf Trip - Costa Vincentina (Amoreira) 2009