segunda-feira, 13 de setembro de 2010

ondas e preconceitos

Este domingo, fiz uma visita à Praia do Moinho de Baixo. Dito assim, muita gente não sabe que me refiro a uma das mais emblemáticas do país, sobretudo pelas razões que levam muitos adeptos do despudor a frequentá-la. Falo-vos, pois claro, da Praia do Meco.
É preciso referir que a prática do nudismo, ou naturismo (de acordo com os mais puristas), ali se faz desde que o 25 de Abril começou a despir de preconceitos a sociedade portuguesa. Portanto, quem, indo lá, ainda se deixa ferir pela indiscrição da coisa, tem sempre a possibilidade de se fixar na zona central da praia (na imagem, para lá do rochedo), imediatamente a norte da área onde mora o pessoal em pêlo; ou, em última análise, optar por qualquer uma das outras mil praias da nossa extensa costa, essas sim, tradicionalmente habitadas pela tribo do têxtil.
Quanto a mim, só uma ocasião de circunstância, como foi o caso, me podia arrastar para aquelas paragens. Não porque me afectem as melancias ao léu ou os pirilaus, mas porque o meu (pre)conceito de praia está irremediavelmente contaminado pela minha condição de surfista.
Como já conhecia o Meco desde miúdo - os meus pais frequentaram durante muitos anos o local -, sabia bem que a possibilidade de surfar lá era diminuta, devido ao declive do areal no ponto de contacto com o mar, o que provoca uma rebentação estupidamente tardia e, por isso mesmo, inútil.
Apesar de tudo, não deixei de alimentar uma remota esperança, tendo mesmo transportado o belo do fato na bagageira, não fosse o diabo tecê-las - nesse caso, havia de encontrar alguém que me emprestasse uma prancha para salvar o dia.
Ao chegar, porém, caíram por terra as expectativas. A ondulação, mesmo sem vento a apoquentá-la, comportava-se exactamente como o previsto. Ainda assim, e porque estávamos na baixa-mar, não deixei de comer com os olhos alguns sets que rebentavam esporadicamente mais atrás. Com um pouco de astúcia, seria possível, pelo menos, dropá-los, executar um bottom e sair em seguida, antes do “côco” apocalíptico na areia, onde os poucos banhistas que ousavam molhar-se lutavam para não serem tratados como peças de roupa na máquina de lavar.
Perante este cenário, lá tive de fazer um esforço para estender a toalha, onde me sentei melancólico e pensativo, limitando-me a comprovar o meu preconceito com a praia, que só faz efectivamente sentido a cheirar a wax e bem vestida de ondas...
Foto: Vítor Oliveira (feriasemportugal.pt)

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