segunda-feira, 30 de março de 2009

alternativas II

Pois é, ó Sérgio, ainda o sinto a sovar-me as pálpebras e as orelhas, o raio do vento.
Sobraram, é claro, alternativas.
Mas estar, ao domingo, de regresso a casa e não poder dessalar no duche é como, em miúdos, quando voltávamos de uma ida à praia completamente violados pela ditadura dum pano vermelho, a gozar connosco um dia inteiro, no altinho dum mastro.
Bem, na verdade, eu até nem posso queixar-me de todo: ainda apanhei meia dúzia de ondas já no ocaso de sexta-feira, o que veio salvar, em certa medida, a desgraça vindoira (só foi pena o acidente com o raio da prancha, que já é sina).
Apesar da ventania, acreditava, sinceramente, ver a boiar no dia de Sábado o nosso amigo “Carecão”, sempre nas tintas para o mar adverso, mas ele nada. Preferiu ficar-se pelo Bar da Praia a contar histórias e a exercer a sua acção de provedor do blogue. Que afinal (a propósito dum texto antigo) não tinha tido (em 1986?) uma Lipsticks. Uma Hotstick, sim! Corrija-se, pois. E que (vejam bem!) não percebia a alcunha de “Corvo” (primeiro: dêem uma espreitada na toalhita do homem; segundo: imaginem o mar inóspito com um gajo sozinho lá dentro, de preto vestido, a diluir-se na noite, como as criaturas do Allan Poe. Ainda restam dúvidas?).
Amigo "Kimmoura"! Venham de lá essas memórias! – como se transforma o simples rapaz da Hotstick no guru da Marques Neves e da Papoa? Queremos saber tudo! Aqui! No blogue! (“juntinhos ao peito”, como diz o outro – ó Pikas, não sentiste no sábado de manhã as orelhas quentes?)
Houve, também, quem aparecesse, naquela mesma ocasião, com um bloco de notas cor-de-rosa, a fingir que estudava! (ofereço-te, Pek, uma viagem ao Havai, se conseguires preparar uma frequência com o “Careca” à ilharga a dar à matraca e o “Isca” a galar-te).
Uma conversinha, agora, com outro dos nossos team riders. Já lhe pedimos para pôr uma foto e completar o perfil. Mas ele nada. Então, agora, toma lá que é para aprenderes, ó “bakano”: ficas aí quietinho e caladinho a beber o suminho que é para toda a gente ver o que te fez a noite e aqueles saltinhos à John Travolta em cima das mesas (ou pensam que sou só eu?).
Só mais umas notas:
Parabéns à Mariana, que faz hoje anos (!!!) e até de noite enfrentou a nortada com a coragem dos seus chinelos.
Obrigado ao João Rosado pela amizade que veio na forma de um fabuloso pão caseiro e de uma esplêndida tarte de atum! (o “bakano” provou e achou divina – ainda lhe vais fornecer o bar!).
Um abraço ao amigo germânico Daniel, do surf camp 58, que se mostrou interessado no nosso blogue.
Um beijo de melhoras à Raquel (o nosso obrigado por dilatares o rol de seguidores).
Agradecer à Beta a hospitalidade e o seu autêntico show dançante, que me fez lembrar a Uma Thurman e o Pulp Fiction.
Termino com a querida "Cardinale", que não conhecia os Fischer-Z e o emblemático “Mar-liese”. Encosta aí os ouvidos e diz lá, miúda, que não é de pular em cima das mesas?

Fischer-Z: Marliese, 1981

arte ou pornografia?

Ainda há pouco tempo, houve uma polémica sobre um livro cuja capa mostrava uma mulher nua.
Este e mais quatro exemplares foram retirados da feira do livro onde se encontravam (já não lembro bem onde, creio que em Braga). Mais tarde, o livro não foi considerado pornografia, por se tratar, sim, de uma foto de uma pintura e não de uma mulher real.
Ao ver esta foto de mulheres reais nuas, pergunto-me: quem são as pessoas que definem o que é arte e o que é pornografia? Mesmo sendo a simples foto de uma mulher nua, que não artística, será isso pornografia?

domingo, 29 de março de 2009

alternativas

Fim-de-semana no Baleal, mas sem surf.
Uma nortada descomunal, como todos sabem, instalou-se por lá.
Aproveitou-se, então, para mais uma jantarada bem regada, seguindo-se uma ida ao Bar da Praia, que bem se podia titular de "festa da areia", tal era a ventania que encheu de areia o bar, tipo tempestade no deserto.
Como sempre, o sítio estava animado, com gente gira e muito bem disposta, como podem comprovar nas fotos, mas com especial destaque para o nosso amigo Lapas, que esteve em altas toda a noite, de fazer inveja a putos de 20 anos (o pior é no dia seguinte, quando se lembra que já não tem essa idade).
Continua com esse espírito, amigo!
Já há quem comente que ele é o verdadeiro "King of The Night".

quarta-feira, 25 de março de 2009

silhuetas inspiradoras

uma pedra no sapato, ou: teoria do surf como uma ameaça para a estabilidade da família já na idade da pedra

A pedra-pomes flutua. Aliás, a pedra-pomes é a única rocha que flutua. Uma interessante exclusividade. Mas quis o destino pobremente celebrizá-la como esfoliante dos pés.
- Ó dona Antónia, não tem por aí uma pedra-pomes, que me doem tanto os meus calcanhares?
Porque é que a dupla Hanna-Barbera nunca pensou em meter os Flintstones dentro de água? Tipo “Dia de Surf”, mas mais evoluído que o da idade do gelo. Isso mesmo: as pranchas seriam de pedra-pomes!
Já imaginaram o Fred e o Barney a descerem umas ondas na baía de Bedrock, caso ela existisse?
- Yabba-dabba-doooooooooo!
O Fred a entubar! E já a pensar em meter o vício na boa da Wilma, para a livrar do calista. E, já agora, a sogra, para dar um tralho num set maior e morrer de vez.
Ena, o Fred! Refastelado na esplanada, à beira-mar, a mamar bujecas com os amigos, enquanto a Wilma desespera em casa por causa da costeleta de brontossauro que já está fria e ele nada de aparecer!
- Mas onde raio é que se meteu esse vagabundo? Pedrita, faz um favor à mamã: vai à baía dizer ao pai que, se não vem para casa imediatamente, dou a costeleta ao Dino.
Pois, o diabo do Fred, a essa hora, já se afogava em gabarolices, vociferando à cantor de hip hop, com tiques nas mãos:
- Um drop atrasado, man! E, depois, o ataque ao lip e uma ‘ganda’ paulada, man!
- Eh, pá, ó Fred, vai mas é pegar fogo a um peido!
Em casa, também Wilma já não o pode aturar. Ele é pesado, tem pesadelos, e faz o take-off em cima dela a meio da noite, gritando de prazer:
-Yabba-dabba-dooooooooooo!
- AAAAAIIIIIIIIIII!!! Porra, Fred, estou farta disto! Éramos bem mais felizes antes da indústria da pedra-pomes se ter instalado em Bedrock e tomado conta da tua triste cabeça!
E com os olhitos a transbordarem arame farpado, eis que arremessa:
- Tu já não prestas! És uma pedra no meu sapato! Por isso, escolhe: ou o surf ou eu!
Fred Flintstone, que nunca gostou de ameaças, seria visto no dia seguinte a ler a ardósia dos classificados na parte das autocaravanas.


Conclusão: Fred errou porque nunca se deixa arrefecer a costeleta a uma mulher. Wilma errou quando disse a Fred que ele era uma pedra no seu sapato (naquela altura, nem sequer havia sapatos).

segunda-feira, 23 de março de 2009

longe?

Estou longe!
Longe do cantinho,
longe dos amigos,
até longe...
de surfar.

Mas,
queria tanto estar perto.... do cantinho,
do cantinho real!
Perto dos amigos,
aqueles que, sabes, são realmente teus amigos.
E... surfar, partilhar as ondas e conversar o tudo e o nada.

Estou longe,
longe do nosso cantinho,
mas... estão todos tão perto,
aqui mesmo... juntinhos!
Ao peito e ao blogue.

P.S. - Obrigado a todos.

intervalo

Uma semana! Uma semana a ganhar bolor e teias de aranha o cantinho da onda!
A equipa do blogue está muuuuuuito cansada. É só surfar, lançar papagaios de papel e caçar cangurus com bumerangues.
Fazemos, por isso, um breve intervalo para limpezas.


segunda-feira, 16 de março de 2009

neblinas, soutiãs, pasteleiras

O último fim-de-semana no Cantinho ficou marcado pela reabertura do Bar da Praia, que o trouxe de volta ao reboliço. Mas já lá vamos.
Em Lisboa, o sábado acordou de manga curta.
E eu até consegui bem cedo deitar o betão para trás das costas, com a perspectiva duma surfada matinal na Capital da Onda. Mas a verdade é que a meio do caminho já se me tinha evaporado a esperança, depois de o nosso amigo “Isca” me ter pintado pelo telefone um cenário catastrofista:
- Isto ‘tá fraco, pá! Ando aqui dum lado para o outro desde as sete e meia e nada!
Quando cheguei, fui encontrá-lo de barrete enfiado e casaco de inverno a ler as notícias no Bar da Praia.
Sim, de barrete enfiado!
Tive pena dele. E de mim também. Apeteceu-me, mesmo, ir apresentar queixa à Câmara! Mas o que é isto, pá?! Vem um gajo de longe para ser recebido com um manto de neblina e vento norte, enquanto o resto do país acorda cheio de abelhinhas musicais a aviarem-se de pólen!
Uma queixa, sim! Pago os meus impostos, gaita! Por isso, ó sô presidente, acabe lá com a porcaria das nebelinas matinais e com as nortadas, que tornam o povo mais triste!
Voltando ao Bar, e já que o surf iria ficar por algumas horas na prateleira, lá retomámos o ritual da manhã, com o Pedro e a Beta a carregarem às costas longas chávenas e bolas de berlim, para saciarem uma fome que já vinha de séculos.
A meio da tarde, com o astro amarelo já espreguiçado na praia inteira (afinal não foi preciso fazer queixa), rolaram as minis e os cornetos.
Apareceram as ‘gaijas’. As lourinhas e as morenas. As gordinhas e as magras. As branquinhas com borbulhas. As com pulseira no tornozelo. As pernilongas. As com joanetes. As de olhos azuis. As mal depiladas. As galadoiras. As maluquinhas do galão. As boazonas. As enjoadas. As frias. As quentes. As desengonçadas. As com remelas. Apareceram os ‘gaijos’. Os tipos com brincos. Os com olhares de crocodilo. Os tatuados. Os coçadores de testículos. Os com t-shirts de marca. Os com bigode. Os musculados. Os com barriga de Super Bock. Os bonitaços. Os com argola no mamilo. Os d'óculinhos. Houve, até, quem chegasse a dizer que aquilo parecia mas era a Costa da Caparica, com garinas na esplanada em soutiã, que só lhes faltava o corta-unhas (lá isso, garanto-vos, eu também vi!).
O que veio também animar em grande o nosso cantinho no fim-de-semana foi o regresso do Bar da Praia à febre de sábado à noite, com uma espécie de rave privada que não constava no programa a transformar-se num chamariz, fazendo lembrar as noites clássicas de Agosto.
Responsável por isto: a nossa amiga que trajou de freira no mês passado e que fez aninhos, festejados com a pompa e a circunstância de um jantar repleto de amigos, em que tive o prazer de me infiltrar.
O resultado, pois claro, foi uma noitada bem espremidinha, até de manhã, com muito Sumol e os habituais gritos e gafanhotos nos ouvidos uns dos outros enquanto a música bombava (já agora: gostos são gostos, mas, ó Sandro, não se arranjava por aí um repertoriozito um bocadinho melhor?).
No domingo, pois claro, as nódoas negras a fazerem-se sentir, com o corpo a dizer não à prancha, quando até se armaram à vista, na fase da enchente, umas ondas de crista bem levantada.
Também não sei se teria estado a nossa amiga aniversariante em boa forma física para experimentar o belo presente que a malta lhe deu: uma fabulosa bicicleta pasteleira(!), a que só faltava, como diria o poeta, uma caixa de ferramenta de pedreiro e uma panela de esmalte azul.
Querida Andreia, que fazes, como diz o teu mano ‘grego’, parar o trânsito... quando passas na passadeira: continua na tua alegre pedalada e disfruta bem do teu novo brinquedo! E, a partir de agora, quando te mandarem passear ou ir dar uma volta, não penses duas vezes!

A Bicicleta

O meu marido saiu de casa no dia

25 de Janeiro. Levava uma bicicleta
a pedais, caixa de ferramenta de pedreiro,
vestia calças azuis de zuarte, camisa verde,
blusão cinzento, tipo militar, e calçava
botas de borracha e tinha chapéu cinzento
e levava na bicicleta um saco com uma manta
e uma pele de ovelha, um fogão a petróleo
e uma panela de esmalte azul.
Como não tive mais notícias, espero o pior.

Alexandre O’neill, 1981



sexta-feira, 13 de março de 2009

cantinho da onda

















cantinho do meu coração
cantinho da baía
cantinho da minha saudade
cantinho dos meus amigos
cantinho onde fui feliz
cantinho das uvas passas
cantinho do p. de estacionamento
cantinho do pôr-do-sol
cantinho do sonho
cantinho da sopa de cozido fria
cantinho do vento
cantinho do surf ao nascer do sol
cantinho da felicidade
cantinho da alegria
cantinho do frio
cantinho que no inverno... às segundas-feiras de manhã, era só meu
cantinho da minha vida


Para todos os meus amigos que me mostraram e fazem parte deste cantinho

terça-feira, 10 de março de 2009

tão perto, tão longe

Uma semana em Itália, dois fins-de-semana sem surfar. Mas o pior de tudo nem foi o trabalho intenso das 8 da manhã às 8 da noite, nem o trânsito marado de Itália, nem o mau bocado que passei devido à comida (nada comparado com as nossas caldeiradas e cozidos à portuguesa no hotel califórnia), nem o stress de fazer escala em Roma, em que é preciso fazer quilómetros dentro do aeroporto, e muito menos ter ficado sem bagagem no regresso. O pior, mesmo, foi estar a 50 Km da praia onde existem ondas boas para surfar (Livorno) e estar a 100 Km da neve (Appenino), onde existem pistas de esqui. Isso, sim, foi o pior de tudo! Por isso, viajar para trabalhar não é grande coisa.


Fotos : Costa italiana (Toscana); Aeroporto Pisa (Galilei).

domingo, 8 de março de 2009

passeio à tarde

Eu e o David a passear num domingo à tarde. E, é claro, com o respectivo fato de tal dia da semana...

quem disse?

Quem disse que o rabinho do Cantinho não dá tubos?

quinta-feira, 5 de março de 2009

fotoscópio

ATENÇÃO! Não se aconselha o visionamento destas imagens a quem estiver com fome (de mesa, de mar ou de amigos). É só clicar no fundo preto. BOA VIAGEM!

quarta-feira, 4 de março de 2009

devo andar metido nos copos :)

HAHAHAHAHA!
Como está no título, devo andar metido nos copos, pois ando aqui com poesia bonita quando até já tinha sido citada :) Por isso, depois de muito suor derramado na pesquisa, em livros, na net, e muitas horas nas bibliotecas municipais, aqui vai :)

O Homem e o Mar
Homem livre, o oceano é um espelho fulgente
Que tu sempre hás-de amar. No seu dorso agitado,
Como em puro cristal, contemplas, retratado,
Teu íntimo sentir, teu coração ardente.

Gostas de te banhar na tua própria imagem.
Dás-lhe beijo até, e, às vezes, teus gemidos
Nem sentes, ao escutar os gritos doloridos,
As queixas que ele diz em mística linguagem.

Vós sois, ambos os dois, discretos tenebrosos;
Homem, ninguém sondou teus negros paroxismos,
Ó mar, ninguém conhece os teus fundos abismos;
Os segredos guardais, avaros, receosos!

E há séculos mil, séculos inumeráveis,
Que os dois vos combateis n'uma luta selvagem,
De tal modo gostais n'uma luta selvagem,
Eternos lutador's ó irmãos implacáveis!

Charles Baudelaire, in "As Flores do Mal"

domingo, 1 de março de 2009

mar sonoro















Já que estmos numa de poesia, então aqui vai:


Mar sonoro, mar sem fundo, mar sem fim
A tua beleza aumenta quando estamos sós
E tão fundo intimamente a tua voz
Segue o mais secreto bailar do meu sonho,
Que momentos há em que eu suponho
Seres um milagre criado só para mim [e para os meus amigos].



Sophia de Mello Breyner

Peço desculpas à Sophia mas tive de acrescentar os meus amigos :)