
Em Lisboa, o sábado acordou de manga curta.
E eu até consegui bem cedo deitar o betão para trás das costas, com a perspectiva duma surfada matinal na Capital da Onda. Mas a verdade é que a meio do caminho já se me tinha evaporado a esperança, depois de o nosso amigo “Isca” me ter pintado pelo telefone um cenário catastrofista:
- Isto ‘tá fraco, pá! Ando aqui dum lado para o outro desde as sete e meia e nada!
Quando cheguei, fui encontrá-lo de barrete enfiado e casaco de inverno a ler as notícias no Bar da Praia.
Sim, de barrete enfiado!
Tive pena dele. E de mim também. Apeteceu-me, mesmo, ir apresentar queixa à Câmara! Mas o que é isto, pá?! Vem um gajo de longe para ser recebido com um manto de neblina e vento norte, enquanto o resto do país acorda cheio de abelhinhas musicais a aviarem-se de pólen!
Uma queixa, sim! Pago os meus impostos, gaita! Por isso, ó sô presidente, acabe lá com a porcaria das nebelinas matinais e com as nortadas, que tornam o povo mais triste!
Voltando ao Bar, e já que o surf iria ficar por algumas horas na prateleira, lá retomámos o ritual da manhã, com o Pedro e a Beta a carregarem às costas longas chávenas e bolas de berlim, para saciarem uma fome que já vinha de séculos.
A meio da tarde, com o astro amarelo já espreguiçado na praia inteira (afinal não foi preciso fazer queixa), rolaram as minis e os cornetos.

O que veio também animar em grande o nosso cantinho no fim-de-semana foi o regresso do Bar da Praia à febre de sábado à noite, com uma espécie de rave privada que não constava no programa a transformar-se num chamariz, fazendo lembrar as noites clássicas de Agosto.
Responsável por isto: a nossa amiga que trajou de freira no mês passado e que fez aninhos, festejados com a pompa e a circunstância de um jantar repleto de amigos, em que tive o prazer de me infiltrar.
O resultado, pois claro, foi uma noitada bem espremidinha, até de manhã, com muito Sumol e os habituais gritos e gafanhotos nos ouvidos uns dos outros enquanto a música bombava (já agora: gostos são gostos, mas, ó Sandro, não se arranjava por aí um repertoriozito um bocadinho melhor?).
No domingo, pois claro, as nódoas negras a fazerem-se sentir, com o corpo a dizer não à prancha, quando até se armaram à vista, na fase da enchente, umas ondas de crista bem levantada.
Também não sei se teria estado a nossa amiga aniversariante em boa forma física para experimentar o belo presente que a malta lhe deu: uma fabulosa bicicleta pasteleira(!), a que só faltava, como diria o poeta, uma caixa de ferramenta de pedreiro e uma panela de esmalte azul.
Querida Andreia, que fazes, como diz o teu mano

A Bicicleta
O meu marido saiu de casa no dia
25 de Janeiro. Levava uma bicicleta
a pedais, caixa de ferramenta de pedreiro,
vestia calças azuis de zuarte, camisa verde,
blusão cinzento, tipo militar, e calçava
botas de borracha e tinha chapéu cinzento
e levava na bicicleta um saco com uma manta
e uma pele de ovelha, um fogão a petróleo
e uma panela de esmalte azul.
Como não tive mais notícias, espero o pior.
Alexandre O’neill, 1981
3 comentários:
O Verão voltou, e o verdadeiro King of the Night atacou no sabado a noite no bar da praia...
Foi um privilégio estar no Bar da Praia nesse sábado! Foi uma noite memorável, repleta de gente boa, sorrizos e dança tresloucada! :D
É meu caro Lapas! Para mim o fim-de-semana passado também teve um gostinho especial. O regresso às caminhadas pela praia, ao “nosso” cantinho e ao seu aroma purificante, a reunião daquelas grãos de areia que me preenchem e infiltram os poros, que me aquecem e alegram a alma e o coração… Eu amei!!!
Em relação à sua infiltração de “bifa”, tomara muita gente receber infiltrações assim, infiltrações boas ondas, ondas sinceras… hehehe Obrigado!
No dia seguinte, lá se foi o meu Deus grego, cuidar dos terrestres de outras margens. E claro, o meu presente não me resistiu… desfrutei de um belo passeio, adorei!! Sim, mesmo tendo em conta as dorezitas que me deixou no corpo… ;)
Grande abraço amigo…
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