segunda-feira, 16 de março de 2009

neblinas, soutiãs, pasteleiras

O último fim-de-semana no Cantinho ficou marcado pela reabertura do Bar da Praia, que o trouxe de volta ao reboliço. Mas já lá vamos.
Em Lisboa, o sábado acordou de manga curta.
E eu até consegui bem cedo deitar o betão para trás das costas, com a perspectiva duma surfada matinal na Capital da Onda. Mas a verdade é que a meio do caminho já se me tinha evaporado a esperança, depois de o nosso amigo “Isca” me ter pintado pelo telefone um cenário catastrofista:
- Isto ‘tá fraco, pá! Ando aqui dum lado para o outro desde as sete e meia e nada!
Quando cheguei, fui encontrá-lo de barrete enfiado e casaco de inverno a ler as notícias no Bar da Praia.
Sim, de barrete enfiado!
Tive pena dele. E de mim também. Apeteceu-me, mesmo, ir apresentar queixa à Câmara! Mas o que é isto, pá?! Vem um gajo de longe para ser recebido com um manto de neblina e vento norte, enquanto o resto do país acorda cheio de abelhinhas musicais a aviarem-se de pólen!
Uma queixa, sim! Pago os meus impostos, gaita! Por isso, ó sô presidente, acabe lá com a porcaria das nebelinas matinais e com as nortadas, que tornam o povo mais triste!
Voltando ao Bar, e já que o surf iria ficar por algumas horas na prateleira, lá retomámos o ritual da manhã, com o Pedro e a Beta a carregarem às costas longas chávenas e bolas de berlim, para saciarem uma fome que já vinha de séculos.
A meio da tarde, com o astro amarelo já espreguiçado na praia inteira (afinal não foi preciso fazer queixa), rolaram as minis e os cornetos.
Apareceram as ‘gaijas’. As lourinhas e as morenas. As gordinhas e as magras. As branquinhas com borbulhas. As com pulseira no tornozelo. As pernilongas. As com joanetes. As de olhos azuis. As mal depiladas. As galadoiras. As maluquinhas do galão. As boazonas. As enjoadas. As frias. As quentes. As desengonçadas. As com remelas. Apareceram os ‘gaijos’. Os tipos com brincos. Os com olhares de crocodilo. Os tatuados. Os coçadores de testículos. Os com t-shirts de marca. Os com bigode. Os musculados. Os com barriga de Super Bock. Os bonitaços. Os com argola no mamilo. Os d'óculinhos. Houve, até, quem chegasse a dizer que aquilo parecia mas era a Costa da Caparica, com garinas na esplanada em soutiã, que só lhes faltava o corta-unhas (lá isso, garanto-vos, eu também vi!).
O que veio também animar em grande o nosso cantinho no fim-de-semana foi o regresso do Bar da Praia à febre de sábado à noite, com uma espécie de rave privada que não constava no programa a transformar-se num chamariz, fazendo lembrar as noites clássicas de Agosto.
Responsável por isto: a nossa amiga que trajou de freira no mês passado e que fez aninhos, festejados com a pompa e a circunstância de um jantar repleto de amigos, em que tive o prazer de me infiltrar.
O resultado, pois claro, foi uma noitada bem espremidinha, até de manhã, com muito Sumol e os habituais gritos e gafanhotos nos ouvidos uns dos outros enquanto a música bombava (já agora: gostos são gostos, mas, ó Sandro, não se arranjava por aí um repertoriozito um bocadinho melhor?).
No domingo, pois claro, as nódoas negras a fazerem-se sentir, com o corpo a dizer não à prancha, quando até se armaram à vista, na fase da enchente, umas ondas de crista bem levantada.
Também não sei se teria estado a nossa amiga aniversariante em boa forma física para experimentar o belo presente que a malta lhe deu: uma fabulosa bicicleta pasteleira(!), a que só faltava, como diria o poeta, uma caixa de ferramenta de pedreiro e uma panela de esmalte azul.
Querida Andreia, que fazes, como diz o teu mano ‘grego’, parar o trânsito... quando passas na passadeira: continua na tua alegre pedalada e disfruta bem do teu novo brinquedo! E, a partir de agora, quando te mandarem passear ou ir dar uma volta, não penses duas vezes!

A Bicicleta

O meu marido saiu de casa no dia

25 de Janeiro. Levava uma bicicleta
a pedais, caixa de ferramenta de pedreiro,
vestia calças azuis de zuarte, camisa verde,
blusão cinzento, tipo militar, e calçava
botas de borracha e tinha chapéu cinzento
e levava na bicicleta um saco com uma manta
e uma pele de ovelha, um fogão a petróleo
e uma panela de esmalte azul.
Como não tive mais notícias, espero o pior.

Alexandre O’neill, 1981



3 comentários:

Sérgio "Isca" Ramalho disse...

O Verão voltou, e o verdadeiro King of the Night atacou no sabado a noite no bar da praia...

Raquel disse...

Foi um privilégio estar no Bar da Praia nesse sábado! Foi uma noite memorável, repleta de gente boa, sorrizos e dança tresloucada! :D

Musa disse...

É meu caro Lapas! Para mim o fim-de-semana passado também teve um gostinho especial. O regresso às caminhadas pela praia, ao “nosso” cantinho e ao seu aroma purificante, a reunião daquelas grãos de areia que me preenchem e infiltram os poros, que me aquecem e alegram a alma e o coração… Eu amei!!!
Em relação à sua infiltração de “bifa”, tomara muita gente receber infiltrações assim, infiltrações boas ondas, ondas sinceras… hehehe Obrigado!
No dia seguinte, lá se foi o meu Deus grego, cuidar dos terrestres de outras margens. E claro, o meu presente não me resistiu… desfrutei de um belo passeio, adorei!! Sim, mesmo tendo em conta as dorezitas que me deixou no corpo… ;)
Grande abraço amigo…