quarta-feira, 9 de setembro de 2009

a onda silenciosa

Bambo fitou-a. Alta e firme, como a serra da Gorongosa. Teria sido modelada por um maconde do norte? Ficou à espera de lhe ouvir um som parecido com o mar. Dentro dela, haveria peixes? Teria um vago sabor a sal?
A mãe partira em busca de água, desaparecendo na noite seca do Inhambane, onde morriam como dugongos as culturas e os animais.
Bambo pediu à terra quente, em que assentava os pés gretados, que lhe acudisse. Transformando aquela onda na matéria das suas lágrimas. E que crescesse e derramasse sobre os campos e as pessoas o seu clamor; e revestisse dum verde garrido as árvores nuas como ele; e, finalmente, lhe devolvesse, do Lago Kariba, o pai que partira com os irmãos, a morrer à sede, na noite luarenta e dolorosa em que ele nascera.

Apêndice: sob o título “La ola silenciosa” (“African Tsunami”, na difusão anglófona) este cartoon venceu, em 2006, o Ranan Lurie Award, concurso internacional de cartoons promovido pela Associação de Correspondentes das Nações Unidas. O argentino Alfredo Sabat, colaborardor do La Nacion, foi o autor do desenho, com data de 2005 e que lhe valeu um prémio de 10 mil dólares.
A ele, as minhas desculpas por me atrever a desenhar por cima esta pequena história.

1 comentário:

Pek disse...

eheh boa imagem, ja a usei na capa de um trabalho sobre a desertificação, na cadeira de poluição de solos :)