segunda-feira, 12 de julho de 2010

a relíquia

Quando um objecto começa a ser considerado uma peça de museu, significa que perdeu a função para a qual foi inicialmente concebido. Numa certa perspectiva, deixa de ser um utensílio para se transformar num "inutensílio".
Bem poderia ser este o caso da relíquia que se vê na foto. Mas não. Adquirida há 26 anos pelo João, esta Seven, que já foi um dia branca como a espuma das ondas, retomou entretanto os seus tempos de glória e serve hoje à Carolina (na imagem, à direita) para ir seguindo os passos do pai.
Deparar com elas (a prancha e a herdeira) dentro de água, entre um crowd massivamente formatado, é tão estranho como ver um jovem recém encartado a conduzir um clássico de mil novecentos e troca o passo. Um paradoxo inesperado, certamente indiscreto, mas sobretudo encantador.
A nossa Té, verdadeira lenda viva do surf português, que trata as pranchas por tu há mais de trinta anos, também não ficou indiferente ao tesouro. Se fosse dela, talvez não se atrevesse a interromper-lhe o sono profundo e o conservasse religiosamente em paz, como se faz aos "inutensílios" de culto, tipo cartas de amor – fiquem a saber que ela ainda guarda a single fin com o buda indiano pintado que lhe ateou a paixão!
Quanto à nossa Carolina, que ainda não tem idade para nostalgias, vai tratando de emprestar à relíquia uma vida extra, ressustidando-a como utensílio e acrescentando-lhe imperiosamente uma nova história. Por imposição natural do seu crescimento desportivo, deixá-la-á a seu tempo. Mas apostamos mil ondas em como saberá mantê-la, algures, ao alcance dos olhos. Como faz a Té, zelosamente, com o buda indiano. Não há amor como o primeiro!...

1 comentário:

Sérgio "Isca" Ramalho disse...

é verdade não há amor como o primeiro...