quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

filomena

Mergulhou as unhas envernizadas na carteira e tirou de lá vinte euros, para dar ao filho adolescente que tinha as calças a fugirem-lhe do cu e cabelo de cão de água. O puto voltou-lhe um agradecimento esforçado e desapareceu com a prancha de surf debaixo do braço em direcção à praia.
- Está a ver, senhor António – disse ela, automática, para o empregado de balcão, enquanto vazava sobre a bica o pacote do açúcar – só dão é despesas!
Depois, fitou-me, de soslaio, a sorrir com apenas metade da boca, requerendo a minha cumplicidade.
Eu dispensei-lhe um sorriso formal e chamei o “António”, que não me conhecia de lado nenhum, para saldar a conta. Acabei por sair daquele café na Caparica a remoer na imagem familiar do rosto dela, semi travestido pelos cosméticos e algumas rugas.
Só se fez luz no dia seguinte, quando pensei na Filomena, que eu conheci por aquelas bandas em '86! A dita, vistosa, teria, então, uns 16 anos e sobressaía nuns fotográficos olhos azuis e no volume emancipado dos seios. Era do tipo extrovertido e não tardou a meter conversa com o grupo de amigos que frequentavam naquela altura as ondas da Costa e o Quica Bar, entre os quais me incluía eu.
A Mena era fixe.
Curtia com todos e consentia sem problemas uns apalpões. Mas não tardou a transferir-se para o grupo dos betos, que tinham pranchas brand new, roupinha de marca e estavam lá a semana inteira, porque não precisavam de vergar a mola para comprar peúgas e gilletes.
Em pouco tempo, foi-nos negando os apalpões e, dos lábios dela, já só tínhamos notícias quando vinham, casualmente, beijar o filtro dos cigarros que nos ia cravando.
Depois, aos poucos, evaporou-se. Durante mais de duas décadas, até à data inevitável destas linhas.
As voltas que o mundo dá!...

3 comentários:

Pek disse...

ahaha se não fosse o amigo Lapas a recordar as suas apalpadelas de infância, de que nos iriamos nós rir nestes dias gelados e cinzentos? Também estive pela costa hoje, mas não encontrei ninguém. beijinhos e bom ano luigi! *

David Caetano disse...

Pois é amigo Luís, as voltas que a vida dá! Ontem era a fixe da Mena e só lhe vias o volume dos seios e os olhos azuis, nesse dia viste o verniz das unhas e as rugas eheheeh!! Espero que as rugas lhe tenham trazido sabedoria e felicidade, senão fica-se mesmos pelos teus apalpões e sabe-se lá o que dos "betos" :-).

Pikas disse...

Bem!
Depois dos comentários do pessoal!!!
Que vou eu escrever????
Bem amigo...continua a pensar na Mena!!!!
Ehehehehehehe.
Agora só um cheirinho...!
Mocidade,mocidade
porque é que fugiste de mim.
Hoje é dia de saudade.....
Pronto não sei mais...
ehehehehe.
Abraço