
Passei os olhos numa tábua de efemérides e espreitei as ocorrências do dia 18 de Janeiro, que é hoje.
Aprendi umas coisas sobre o corsário Mondragon, o Duarte Pacheco, a capital do Perú, a constituição do Império alemão, o Pólo Sul e até o facto de o explorador britânico James Cook ter descoberto neste mesmo dia, em 1778, as ilhas do Havai.
Os vidreiros, por seu turno, estavam destinados a que alguém elegesse falar sobre eles num blogue de surf, que são coisas (o surf e o blogue), claro está, de cuja existência eles não poderiam suspeitar há 76 anos, até porque tinham mais com que se preocupar - como contestarem o tal Estatuto do Trabalho Nacional, inspirado na Carta del Lavoro do fascismo italiano e que se preparava, então, para lhes subtrair uma catrefa de direitos fundamentais e relegá-los para uma espécie de subordinação canina, sem horizontes. Ou seja, tudo aquilo a que um surfista, verdadeiro amante da liberdade, nunca desejaria submeter-se.
Em 1934, não havia surfistas no nosso país. Mas se imagino que os houvesse e que acendessem numa praia uma fogueira, e tocassem viola, escondendo os olhos sob as guedelhas longas enquanto fumassem cigarros esquisitos, alguém de passagem os denunciaria à Polícia de Vigilância do Estado.
Recaíria sobre eles a mácula da vagabundagem e do anti-corporativismo, por preterirem a solidariedade entre a propriedade, o capital e o trabalho em benefício da solidariedade entre o despojamento e o ócio. O próximo spot, como no caso dos vidreiros, havia de ser o Tarrafal.
Não tenho dúvidas.
1 comentário:
efeméride vem mesmo a propósito porque neste momento só apetece mesmo mandar o trabalho a merda e ir vagabundear para a praia...dia de cão.Para aqueles que surfam todos os dias aproveitem que um dia pode-se acabar...
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