segunda-feira, 5 de abril de 2010

então, e o surf?

Encontrar um surfista no Alto Alentejo é tão improvável como avistar uma azinheira em Peniche.
Fui descobri-lo atrás duma banca de velharias no mercado de Estremoz, com um aspecto bem nutrido e sem o típico rosto bronzeado nem assaduras no pescoço, pois já se deixou do fato de neoprene há uma data de tempo. Lembram-se dele?
Mesmo para quem não conheça o Rebelo, é quase certo ter deparado mais que uma vez com aquela carrinha azul e branca (na fotografia), em tempos plantada religiosamente aos fins-de-semana no Cantinho.
Quase, aliás, me atrevo a afirmar que seria mais fácil, naquela altura, ver um porco a andar de bicicleta do que o fanático do Rebelo a andar dali para fora.
Mas a vida tem destas coisas, e, ao que parece, houve outros apelos, como o negócio das antiguidades, que ganhou asas e se expandiu para outros locais, como Setúbal ou Estremoz, onde já o tinha encontrado há uns tempos.
«Então, e o surf?», lá atirei, quase convicto de estar a enterrar-lhe impiedosamente um dedo na ferida. «Talvez um dia. Ainda tenho na carrinha o fato e a prancha», consentiu, depois de ter começado por afirmar polidamente que o surf não lhe dava de comer.
«O fato já deve estar desintegrado e a prancha cheia de bolor», brinquei. Ele riu-se. A mulher, que o acompanha nestas andanças, diz incitá-lo, em domingos de sol, a ir à praia. Mas ele, nicles. Está ciente que um surfaólico em regime de abstinência não vai à praia, sob pena de recaída.
Ou tudo, ou nada, pois claro! E se a opção é comer, em vez de surfar, posso assegurar-vos que o homem escolheu, decididamente, o caminho certo, pois só o missal do século XIX que vendeu a um espanhol, enquanto falávamos, rendeu-lhe o bastante para comer lagostas o ano inteiro.

1 comentário:

Sérgio "Isca" Ramalho disse...

O amigo Rebelo, aos anos que não o vejo, o Homem que se não estivesse a surf estava a comer uma sandocha...