quarta-feira, 28 de outubro de 2009
o pacto
É desse programa que transcrevemos o excerto seguinte:
- Desculpe dizer-lhe, meu caro Slater, mas achei divina a mordidela que lhe deu o fedelho do Owen Wright. Esse cão danado fez de si um viralatas. Diga lá outra vez: “caím”, tal como disse no final do heat. Vá, diga!
- Um de nós teria de sacrificar-se...
- Mas não daquela maneira obscena, por menos de um ponto!
- Senhor Saramago: para o caso de não saber, devo informá-lo de que venci nove títulos mundiais. Já ganhei tudo o que havia para ganhar!
- Pois. Ganhou. Pretérito Perfeito. O Eusébio também ganhou tudo e, hoje, está na prateleira, de onde só sai para ir almoçar à Tia Matilde.
- Quem é o Eusébio?
- ...! Esqueça. É só uma lontra do Oceanário...
- Ouça, senhor Saramago: sabe o que é um 360? Um aerial? Um off-the-lip?
- Farto-me de executar essas manobras nos meus livros!
- Pois... Ouvi dizer que faz umas ondas... na água benta!...
- ... Sabe, Kelly, você é a prova de que Deus não existe. Se ele existisse não ia querer rivalizar consigo e já o teria sacrificado há muito mais tempo.
- Co’ a breca! O senhor é mesmo um ferrabrás!
- O que vale é que já não há fogueiras em São Domingos!...
- Quem?
- Oiça lá, você acaba de lançar a sua biografia, que lhe deve ter dado uma trabalheira dos diabos, e não sabe o que é a Inquisição?!
- Gosto mais é de ondas!...
- Ondas, não é? E, ao domingo, vai a Fátima pedir ondinhas para si e para os amigos, não é? E compra uma vela e espera que ela arda enquanto chupa um rebuçadinho cor-de-laranja com sabor a silicone!...
- Deixe-se disso. A minha religião é o surf!
- Pois, e você é o deus supremo e grama à brava ter os devotos e as devotas atrás de si a armarem-lhe o andaime. Mas olhe que os fiéis são como as moscas. Agora, cheira-lhes a Faneca.
- Fanning, senhor Saramago, Fanning!...
- ... Ou lá o que seja... O que é certo é que esse diabo não se deslocou a Portugal para viver uma espécie de sétimo dia, a espreguiçar-se e a jogar golf, como você fez, esperando que na hora do juízo final o viesse salvar a divina providência!
- Senhor Saramago: não caia na tentação de menorizar o meu prestígio, que é intocável!
- A adoração que lhe votam, meu caro Slater, é como os namoros de adolescência: amanhã vem outro.
- Que venha. Agora, interessa-me é celebrizar a minha biografia. Há-de vender mais que o seu “Caim”!
- Lá nisso acredito! O meu Piruças também mastiga mais depressa uma salsicha do que um osso de elefante.
No dia seguinte, José Saramago voou para o Havai na companhia de Kelly Slater. O americano ensiná-lo-ia a fazer surf, a troco de o Nobel ser o autor da sua próxima biografia.
- Ó Zé, achas que o people gostou do nosso frente-a-frente? Será que ajudou na promoção dos livros?
- Claro, Kelinho! Não há melhor publicidade que a negativa. Mas devias ter-me chamado nomes mais feios! “Ferrabrás” foi muito macio! Devias ter-me ofendido! E, se calhar, eu devia ter queimado a tua biografia em frente às câmeras ou cuspir-lhe em cima...
- Achas?
- Acho. Mas, agora, também já não interessa, porque o próximo livro sobre a tua vida vou ser eu a escrevê-lo, que é o bastante para fazer dele uma bíblia. Vá, empurra aí, que vem lá a espuminha!
sexta-feira, 23 de outubro de 2009
esperança do oeste
Um cenário que o surfista português aproveitou da melhor maneira para se evidenciar perante as objectivas dos fotógrafos oficiais da prova, que não tiveram mãos a medir enquanto o atleta desaparecia espectacularmente nos tubos mais cavernosos de que há memória em Peniche.
No fim da sessão, veio a notícia inesperada da decisão dos organizadores do evento em incluírem Nunes na lista oficial de competidores, aumentando assim a participação portuguesa no certame, onde já pontificavam Tiago Pires, Justin Mujica e David Luís, entretanto afastados no decurso da primeira ronda.
As esperanças lusas voltam-se agora para o surfista ferrelejo, conhecido no meio por Trinitá, e que afirmou, polémico, em declarações exclusivas ao Cantinho da Onda: «Já se foram o Pires e o Mujica, mas ‘tou cá eu! Podem vir os Kellys todos de uma assentada que eu trato-lhes da saúde! Só espero é que não venham outra vez com a tanga da caganeira!...».
Foto: João Rosado
quarta-feira, 21 de outubro de 2009
o marinheiro
Também lá fomos, em caravana, numa incursão de todo-o-terreno, no final da tarde de sábado, para desfazermos o que ia sobrando em frente às escarpas cor-de-laranja, para lá dos Belgas.
Foi nessa precisa ocasião que se juntou a nós um novo amigo, com a sua enorme barcaça amarela, mais pesada que um petroleiro, e o remo da praxe. Uma logística supostamente inadequada a quem se alimenta à base de legumes, sobretudo com terrenos declivados para vencer, entre a porta do automóvel e a da praia.
Mas o artista não se queixou. Apesar de, mais tarde, nos ter vindo a confessar que não comia carne (por razões que só ele sabe), fez descer e subir airosamente pela falésia o couraçado – nada que espantasse, pois também ele parecia um Popeye acabadinho de comer espinafres, capaz de dar umas chapadas num qualquer Brutus que o dropinasse.
Lá em baixo, mesmo sem ondas de encher o olho, mostrou que, para ele, o paddle surfing não tinha segredos. Lá soubemos, entre as bifanas do jantar e o pão de canela feito por ele (talvez o domínio da pá de padeiro lhe tenha aguçado o jeito para o remo), que o nosso amigo era aveirense.
Mal nos viu, pela manhã do dia seguinte, saiu-lhe de pronto, num tom simpático, como se já nos conhecesse desde o tempo dos candeeiros a gás: “Então, hoje, onde é que é?”
Daí a instantes, acompanhava-nos. Nós a butes, pela orla da baía, e ele a remo, que eram óbvias as vantagens de ser o “barco” a transportá-lo, em vez do oposto.
Fomos morrer num pico lustroso, onde não morava mais ninguém. Lá rolámos, à vez, numas marrecas de meio metrinho, até que viessem anestesiá-las o backwash e a maré cheia.
“Quem era o gajo da prancha amarela?”, perguntar-me-ia, posteriormente, o paparazzo João Rosado. E compreendia-se a interrogação, pois no rol de fotografias que tirou à socapa e me forneceu para pôr no blogue, lá estava o dito marinheiro omnipresente!
segunda-feira, 19 de outubro de 2009
domingo, 18 de outubro de 2009
old friends
Ainda bem que apenas restou um arranhãozito e umas dorzitas que mais pareciam um acto de solariedade para com o Pompeu.
As melhoras amigos...
Foto: Carrapateira, 05/10/09
segunda-feira, 12 de outubro de 2009
heróis do mar
- É preciso ter lata!... Já viste este anúncio? oferecem uma recompensa de 20 mil euros a quem nos encontrar, vivos ou mortos.
- ‘Tá descansado. Aqui ninguém nos vai descobrir. E como isto é um bocadinho isolado, se aparecer alguém vai pensar que somos o Joaquim Bastinhas e o Buffalo Bill, à procura de privacidade na Costa Alentejana.
- A verdade é que, a partir de agora, somos proscritos na nossa própria terra!
- Já estava na hora de alguém arrumar com os castelhanos! Que vão invadir o raio que os parta!
- Tens razão! Pelo menos, aqui, já não metem os cotos. Gastei as munições todas e encravei a minha carabina nova, mas fartei-me de gozar a vê-los dançar o bolero à medida que saíam da água com as pranchas furadas e desapareciam a voar pelas dunas!...
- Pois, só foi pena teres cometido a imprudência de te embeiçares pela sevilhana de carrapito. Podia ter-te custado a vida!...
- Se estivesses no meu lugar e a visses chegar, bamboleante, com uma perna maliciosa a sair-lhe da saia... queria ver se não te caía a espingarda, quer dizer, a bandarilha...
- Cala-te! Se não fosse eu a topar-lhe o punhal escondido no leque e a surpreendê-la com uma pega de cernelha, já cá não estavas!... E ainda me espetou uma unhada, a cabra, enquanto tu te babavas todo a olhar-lhe para as ligas!
- Querias o quê? Que gritasse uns olés enquanto tentavas dominá-la? E que no fim te fizesse uma vénia e te lançasse flores?
- Não. Mas é preciso que fique bem claro: a retirada dos castelhanos também se deve cá ao Pakito!
- ...E à Brites de Almeida!...
- Por falar nisso, onde é que ela se meteu?
2. "Tomatina" à buñolesa
- Qu’é isto, pá? Sete castelhanos enfiados na minha Opel Combo?
- No, por fabor, somos hermanos tuios, no nos molestes!
- Quais hermanos, qual quê! A minha carrinha não é nenhum albergue! Toca a saltar cá para fora, senão esfanico-os todos à pazada, ou eu não me chame Brites de Almeida!
- Brites? La Padera de Aljubarrota?
- Reencarnada!
- Dios! Eres tu quien estaba praticando padlle surfing e batendo con tu pa en nuestras pobres cabezas?
- Tudo quanto é bife leva com a pá na cabeça, principalmente espanhóis, que isto não é Castela! Toca a mexer e Badajoz à vista! Se não saltam imediatamente daí, vão ver o que é dançar ao som duma pá o passo doble!
- No, por fabor, solamente nos habemos quedado por aqui un instantito porque hay un gringo endiabrado disparando su rifle contra nosotros! E hay también un torero muy peligroso que molesta nuestras mujeres!
- Não te ponhas a dizer mal dos meus amigos com essa carinha de visigodo, que apanhas já uma trolitada! Dou-vos cinco segundos para se pôrem a mexer daqui para fora, senão vou ter de ensaiar com a pá uma "tomatina" à buñolesa!...
quarta-feira, 7 de outubro de 2009
somewhere in time
sexta-feira, 2 de outubro de 2009
Hora de ponta na cidade de Ferrel
Na passada quarta feira, eu (Raquel) e Emanuel deslocávamo-nos na viatura Major no sentido Bar da Praia – Almagreira. Era hora de ponta, cerca das 19h, e estávamos com alguma pressa para apanharmos umas ondas antes que o sol se pusesse.
Na povoação de Ferrel, tivemos necessidade de voltar à direita numa estrada de terra batida. Ao nos aperceberemos que dessa estrada vinha uma carroça puxada a um animal característico daquela povoação, rapidamente imobilizámos a nossa viatura, dando prioridade ao asno.
Ora, o dito, teimoso como ele só, não respeitando o sinal de STOP que se apresentava na sua faixa de rodagem, deu em fazer um arranque a toda a velocidade de tal maneira que o condutor da carroça, um senhor de idade que se fazia acompanhar pela sua esposa, perdeu o controlo da sua viatura.
O burro (que não tem outro nome) fez uma tangente à frente esquerda da carrinha Major mas como acima referido, era pouco esperto, não deu o desconto do volume da carroça que transportava vindo esta colidir no nosso veículo. Com o embate, o condutor da carroça saiu disparado num voo picado, passando para a frente do burro e dando ainda um rebolão no chão. A velhota ficou imobilizada em cima da carroça. Eu fiquei sem saber se havia de ir ajudar os velhotes ou tirar umas fotos para pôr no blogue do cantinho. O Emanuel, qual Super-Homem, saiu rapidamente em socorro das vítimas. Felizmente ninguém se magoou. Só o senhor voador ficou um pouco dorido no corpo.
Ficámos todos sem saber como reagir e o que dizer, mas o Emanuel quebrou o silêncio virando-se para o homem e proferindo uma sábia frase com o sotaque que lhe é característico: “O senhor caiu como gente grande, hein?”
Depois de tudo resolvido prosseguimos ainda com mais pressa, pedindo ao sol que não se fosse embora. Mas 100m à frente fomos interceptados por um congestionamento típico das grandes cidades. Desta vez era um pastor com o seu numeroso rebanho de cabras que entupia a estrada. Fomos forçados a parar mais uma vez e esperar que as cabras passassem.
Depois de tudo isto e de, mais à frente, nos enganarmos no caminho, lá chegámos ao spot. Entrámos à pressa e ficámos dentro de água até ser noite.
:)
peniche, capital da onda
"Gente de Peniche: se a Ericeira tem uma rotunda com um surfista num tubo, Peniche passa agora a ter uma rotunda com o nosso herói, the Pinky-Surfer! Aqui, em frente à Nossa Senhora da Boa Viagem, temos agora esta estátua para que todos os malfeitores dos bifes se lembrem que o cantinho da baía é 'locals-only' e que, quando menos esperarem, levam um dropino cor-de-rosa, de olhos vendados e ao pé coxinho! Se Peniche é a Capital da Onda, então este herói é que devia ser presidente!!"
Aqui fica, então, a imagem desta nova obra pública:
P.S.- A máscara serve para ocultar a identidade do misterioso herói, para que os bifes não se vinguem dele quando, em horário pós-laboral, bebe umas jolas com os amigos no Bar da Praia.