sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

fado clandestino

Nem os Tokio Hotel
Os cantores penicheiros Ivo & David preparam-se para apresentar brevemente ao público o seu mais recente trabalho: “Ondas & Marés”.
O espectáculo está marcado para o dia de Natal, na marina de Peniche, onde actuarão os Deolinda, cabendo ao duo do Oeste as honras da primeira parte.
Uma história que bem podia, afinal, ser escrita ao contrário, pois têm sido, esmagadoramente, os fãs do duo quem, desde cedo, desespera por sentir nas mãos os tão desejados ingressos, à venda já a partir de amanhã na secretaria da Câmara Municipal.
Nos últimos dias, a presença permanente de milhares de jovens à entrada do Município gerou mesmo uma onda de solidariedade por parte da população penichense, que não tem regateado esforços para assegurar com víveres e outros bens de primeira necessidade a sobrevivência dos fervorosos seguidores de Ivo & David, a pernoitar há dias em condições deficitárias para poderem ouvir no próximo dia 25 o cobiçado dueto.
Tendas, cobertores, caixas de cartão: tudo serve para descansar o corpo da maratona diária, igualmente compensada, desde a primeira hora, pelos supermercados locais, incansáveis no fornecimento de relaxantes “Durex” e “Casal da Eira”.
Joana, 16 anos, vinda da Nazaré, elogia a organização: «Peniche está de parabéns! Ter a oportunidade de ver Ivo & David depois de curtir oito dias à porta da Câmara, é o máximo! Nem os Tokio Hotel conseguiram gerar um acampamento tão grande e duradoro à porta do Pavilhão Atlântico!».

Alabá Nutê e “A Invenção do Amor”
E não se pense que a boa vontade de Joana é fruto da idade, pois um pouco adiante fomos encontrar a dona Palmira, de 66 anos, avó do Danilo, de 18, e que veio com o neto directamente de Freixo de Espada à Cinta para escutar a banda mais desejada do Oeste: «Quais Beach Boys, quais quê?! Ivo & David é que é!» gritou-nos na cara a dona Palmira, enquanto franzia o nariz e sorria desabrida com os seus quatro dentes. «Olhe!», continuou ela, «o do barrete é muito parecido com o Ricardo Xibanga, o toureiro, lembra-se? É só por dizer que este é branco, enquanto o outro era preto!...».
Fizemos um silêncio pesado, que Palmira tratou imediatamente de aligeirar com uma expressão de cupido. «O dos caracóis», retomou ela, «faz-me lembrar um amante que tive em Marrocos, quando fui para lá fazer surf e curtir uns fumos, em 1964. Chamava-se Alabá Nutê, que em português quer dizer Cavaleiro do Tempo. Passei com ele dias a fio, dentro duma Volkswagen pão-de-forma, à procura da onda perfeita, que nunca encontrei, e só alguns anos mais tarde, muito depois de ter regressado, é que eu percebi que a onda perfeita era afinal aquele rapaz de pele acobreada, que me cantava, todos os dias, com a sua guitarra clássica e voz de mel, uma canção esquisita, num português muito mal arranhado, que só depois do 25 de Abril é que eu descobri que era um fado clandestino, inspirado no poema do Daniel Filipe “A Invenção do Amor”, mas que não tem nada a ver com o “Clandestino” cantado por uma bandazita que anda para aí agora e que se chama Deolinda, está a perceber?».
Imagem de: Aaron Bihari

3 comentários:

Lapas disse...

Ah, grande Palmira!

Anónimo disse...

acho que essa velha deve ser avó do Alex

David Caetano disse...

Aahhhh k saudades dos dias passados com a maluca da Ti Palmira em Marrocos!!!! Bela vida!!!
Bem, nostalgias à parte, quem quiser bilhetes pó concerto é só dizer, mesmo que não tenha peço ao Ivo, apesar dele já me ter dito que se comprometeu em arranjar alguns para o Kelly, Taj, pó maluco do Rob, agora é o Ben Harper que também que quer vir e trazer a família e o Jack, enfim, já sabem como é o Ivo, com o seu coração mole não diz que não a ninguém, por isso o melhor é apressarem-se.

PS. Luís, ligaram-me o David Luís e o Cardoso, eu disse-lhes que tu lhes levavas os bilhetes eheheh