Como se não bastasse a porcaria do cheiro a fritos americanos, à mistura com o perfume enjoativo das adolescentes e a perspectiva de passar o filme inteiro a dar-me conta do que se passa dentro das bocas dos outros, ainda recebo, mascarado de bilhete (até gostava de os coleccionar antes do mundo global), a porcaria dum talão que não difere em nada daqueles que costumam dispensar-me no talho ou na charcutaria.
Meia hora depois de ter esperado impacientemente a minha vez, numa das quinhentas filas que desembocam num mar de caixas que faz lembrar o Continente, dou comigo a ouvir:
- Para esse filme só há bilhetes para a fila A.
F#&@-$€, pensei. Este gajo faz-me perder meia hora em pé, enquanto abandona insistentemente a porcaria da caixa para ir encher a porcaria dos baldes com a porcaria das pipocas e agora ainda quer que eu mastigue a porcaria do filme em cima do ecrã!
- Olhe, e chouriços vende? – perguntei-lhe.
Ficou a olhar, enquanto me afastei, decididamente, a espezinhar a porcaria das pipocas que o miúdo do lado tinha deixado cair para o chão. O meu, coitado, veio-se embora a chorar pelo Alvin, apesar de não o conhecer de lado nenhum. Apeteceu-me, confesso, os domingos singelos de antigamente, a ver em casa os filmes da Heidi a preto-e-branco e a comer torradas ou salada de frutas.
Foto: Sodahaed.com
1 comentário:
É por isso que não vou ao cinema...rsrsrs
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